Uma das coisas que rapidamente
me apercebi deste muito cedo na vida foi que, independentemente do valor intrínseco
ou mesmo do potencial de cada vertente de filosofia teológica ou religião, há
águas que não se misturam sem por em causa a integridade das mesmas. Há
misturas que são contrassensos por terem premissas de raiz que não permitem
acomodar uma compatibilidade plena ou, por vezes, mínima. Um abraâmico (judeu,
cristão ou muçulmano), por exemplo, se ortodoxo, nunca poderia acreditar
piamente num oraculo, método de adivinhação ou numa salvação através de
conhecimento e compaixão somente porque algumas das premissas fundamentais de
tanto judeus, cristãos e islâmicos é a noção de mácula à nascença, de propensão
inescapável do ser humano para cometer atrocidades, da necessidade imperiosa de
uma escala hierárquica e de uma casta sacerdotal masculina restrita, a solução
de todos os problemas está encompassada nas palavras e atos dos seus guias e
profetas oficiais e de mais ninguém- nem mesmo dos praticantes
"normais".
Existe uma necessidade de
entrega emocional, mental e física a um Deus que se auto revela como
"invejoso", "ciumento", "rápido em cólera e
castigo" para quem consulta ou tenta saber de algo sem ser através dos
profetas e todas as vertentes possuem (judaísmo e cristianismo com um afã mais
claro) uma distinta noção da absoluta indispensável necessidade de um ser
divino, um Messias, que expie e redima a humanidade sem a aceitação do qual e
seus preceitos de nada vale qualquer grau de compaixão, inteligência ou obras.
Uma outra noção clara é a de monoteísmo acérrimo, nem os próprios profetas
podem ser adorados; respeitados com certeza mas não adorados.
O primeiro dos 10 mandamentos é
precisamente a ordem de não adorar mais ninguém de todo. Judeus não ortodoxos
veneram uma contraparte feminina de Deus, na cabala - ora isso já não é a
religião israelita, nem o uso de numerologia, astrologia, misticismo das letras
do alfabeto e outras "artes" como meio de obter conhecimento oculto
através de artes divinatórias que são apenas pálidas cópias do que antes os
seus vizinhos da Babilonia e Egipto tinham. Um israelita ou judeu, ou um
cristão ou um muçulmano que venerem qualquer pessoa ou entidade (santos, anjos,
etc.) para interceder junto de Deus e a quem façam promessas estão por defeito
já a quebrar o primeiro mandamento. Se o fizerem fazendo oferendas de velas, incenso
e/ou comida e/ou promessas de caminhadas, dadivas etc. para a realização duma
tarefa divina para ultrapassar um obstáculo estarão a quebrar o primeiro
mandamento e o mandamento da idolatria também.
Porque as pessoas têm vontade
própria e alguns não se acomodam em submeter a vida toda à "letra da
lei" nem as decisões de um só homem, começaram a olhar a volta e para o
seu próprio passado e começaram a praticar o que não pode ser chamado de outra
coisa que não paganismo e magia mas para não serem descobertos ou sancionados,
mesclavam princípios dúbios da sua religião que era e é restritiva com
invenções puras e apropriações culturais de modo a justificarem a outros e a si
mesmos que o que fazem ainda tem lugar dentro do espectro ritualístico da
confissão religiosa que seguem
Para ser prático e claro, alguns
por exemplo acendem velas ao fazer um pedido a Deus ou aos santos. Este hábito
nada tem a ver com a bíblia- de todo, é uma apropriação dum hábito religioso
grego e romano. O uso de incenso na bíblia era para quando faziam sacrifícios
de animais para disfarçar o cheiro e ser um símbolo de oração- o fumo a subir
ao céu como as suas preces. Passou a ser usado nos altares, nas casas e quando
se fazem pedidos por apropriação cultural de rituais da Babilónia e Egipto. A
adoração de Maria é dos mais claros pontos de um povo a querer voltar aos
tempos do paganismo onde havia a figura de uma entidade Maternal poderosa- algo
que não apenas é omisso da bíblia mas é específica e claramente proibido. A par
disto em lado algum, bíblia ou qualquer registo, ate o século II depois de
Cristo, se falara de Maria com qualquer aspeto místico, de seu nascimento só sabíamos
a linhagem
Assim que uma pessoa hoje ir a
uma meditação de estilo budista e querer comunicar com o Alem através de tarot
ou outros rituais, pedindo a intersecção de santos ou por exemplo de Saint
Germain (que não foi um santo cristão, de todo, foi um assumido místico
primeiro aparecendo no seculo 18 e nunca pregando nada apenas agindo e falando
do que aprendera no oriente e de como achava a metodologia e teologia ocidental
perigosamente castradora da mente e espirito, ocasionalmente engajando em
rituais abertamente pagãos com laivos de budismo) ou de evocar anjos ou
arcanjos (cujos nomes foram inventados como arquetipos muito depois da bíblia,
surgindo em escritos os mais antigos do seculo IX de forma rudimentar e como os
conhecemos hoje só haveriam de ser escritos no seculo XVII, sendo que na bíblia
se adverte que não se pode evocar nada nem ninguém, nem um profeta os deve
evocar porque Deus é o senhor dos anjos e não o mortal e o deus bíblico nunca
mencionou nomes sem ser de 3 e não há na bíblia menção a títulos dos mesmos. Essa
pessoa não pode por coerência querer misturar tudo e se sentir congruente nem
muito menos cristão ou israelita.
As coisas têm nome. Uma pessoa
que misture de tudo um pouco será um curioso, um aventureiro a tirar algo de
uma cultura e outra coisa de outra. Não é mau nem é bom. Interessa é duas
coisas: ´
1- Quais
os critérios seguidos? Um estudo a biografia dos autores de tais formas de
pensamento e rituais tende a mostrar que agiam e escreviam- como é o caso de
Eliphas Levi ou Agrippa, com um elevado grau de amargura face a liderança da
igreja de onde foram expulsos mas também não plenamente conformados com a
religião para onde foram se converter. Estes dois que mencionei misturam bíblia
com misticismo cristão dos gnósticos com cabala da mística judaica com uma
interpretação muito própria - e em ambos casos muito patriarcalista e adepta da
necromancia, de forma algo confusa e contraditória e sempre mencionando que
obtiveram conhecimento de livros ocultos cujos títulos e autores nunca
mencionam ou de anjos que só eles viram.
2- Porque
devo eu hoje, ou quem quer que seja, aceitar sem questionar que alguém misturou
tudo a sua forma? Ademais se essa pessoa nem assume, ou as vezes sequer sabe,
que o que diz pode ser muita coisa mas não é um ensinamento milenar nem muito
menos monoteísta ou bíblico? Posso até acreditar e ver valor em alguns métodos
e interpretações dum caminho ou de outro, mas irei sempre averiguar onde e como
foi obter esse conhecimento. Isto não é ser teimoso ou céltico demais- eu
ademais acredito na possibilidade de divindade, mas antes é um salutar desejo
de conhecimento, de independência intelectual e espiritual
Chego a ver pessoas seguirem um
caminho- ou a criá-lo, misturando a bíblia, cabala, livros de autores de
caracter altamente dúbio do seculo 19/20 pertencentes a ordens de secretismo
como Rosa Cruz, ordem do Templo, Ordem de Telema, Ordem da Manha Dourada, etc, misturar
com restos de tradições orais de folclore místico da eurásia, inventando
rituais e sem qualquer fonte comprovável afirmando ser de origem celta ou sul ameríndia,
alegar ter acesso a conhecimento de continentes e pessoas desaparecidas,
misturar isto tudo ainda mais com ficção cientifica e alegar existirem
federações intergalácticas espirituais onde estão jesus, buda, Vishnu e outros
(curioso que a parte de ficção cientifica New age é composta quase sempre só de
homens e ademais todos ilustrados como brancos e louros...) indo ao detalhe de
dizer a cor das fardas e que é quase igual ás do Star Trek.
Parece brincadeira? Mas não é,
há pelo menos 6 correntes "espirituais" principais que eu conheça
assim neste momento em franco crescimento e é delas que advém muitos livros ou
de seus acólitos que depois saem e acrescentam ainda mais coisas e pontos e
personagens e rituais. Os únicos 3 pontos comuns a vastissima maioria destes místicos adeptos
da mistura cultural e ideológica?
1-
Nunca há bibliografias ou fontes nos seus
escritos com mais de 50/80 anos;
2-
A solução
para todos os problemas é o coração, a alma, a luz mas sempre de forma vaga e,
a meu ver, irritantemente dogmática in extremis;Com um pendor para atribuir a todos um sentimento de perseguição; há sempre invejas, maus olhados, energias negativas e trabalhos feitos que só ele/ela pode ajudar e de bom coração o fará...pelo preço certo. Se passar, o mérito é de quem mandou fazer o ritual e pega-se a pessoa num ciclo, se não funcionar é porque Deus o não quis ou a pessoa foi fraca e tem de fazer mais sessões- pagas é óbvio. Nunca se fala em os problemas terem de ser enfrentados com maturidade, ser assertivo, ser bondoso, se alguem mesmo inveja- da a outra face e ignora, faz voluntariado, ajuda os pobres (em principio o que melhor limpa a alma é fazer o bem mas isto nunca é recomendado- desvia o foco da pessoa), obter apoio psicológico (porque perturbações mentais profundas como esquizofrenia paranoide, bipolaridade, ou mesmo depressão não passam com rezas, meditação ou rituais pagos- sem desmerito a validade possivel da oraçao ou meditação ou ritual mas TEM de haver cuidado com o que se diz e apontar a pessoa para cuidados médicos profissionais, para lidar e não apenas fugir ou negar a existencia de problemas)
3-
Fazem-se pagar e bem pelo conhecimento não
rastreável de rituais não explicados. Quando digo fazem-se pagar bem digo pedirem
uma média de 50euros para uma meditação ou 50/100euros por uma leitura de um método
de adivinhação seja tarot, runas etc, ou rituais de limpeza da pessoa/casa por
100/200euros; formações ou seja ensino de princípios alegadamente libertadores
por nunca menos de 250euros por 8/10horas sem haver bibliografias, explicação histórica,
biografia de quem desenvolveu ou contribui para tais métodos, um lado mais pragmático
e especifico e personalizado e NUNCA uma formação que seja tão extensa que
exponha tudo mas que diga apenas o que se quer ouvir de forma vaga, não
vinculativa, fantasiosa q.b. para despertar curiosidade mas nunca pragmática ou
completa q.b. para que a pessoa numa só sessão possa ter dados para formar uma
opinião do todo e muito menos ser capaz de se sentir um praticante pleno (para
isso tem de ele/ela mesmo ter outra formação de iniciação ou formação de
formadores- a serio isto existe, por uma media de 500/800euros por um período
que pode ir de 8horas a um par de meses)
Nem vou pelo se resultam ou não porque a meu ver onde há
crença e energia suficiente acaba por haver um dobrar de campos mórficos e pode
se influenciar de facto a balança das probabilidades mas seja de que vertente
seja porque não é o nome ou ritual ou instrumento que faz a alteração é a eletricidade/energia
dos praticantes que desbloqueada e canalizada por que meio seja pode de facto
fazer as mudanças
Chocados? Bem, eu fiquei e desanimado porque uns praticam e
fazem estas coisas com convicção - não retira a mancha que poem em si mesmos de
ingenuidade e preguiça mental de não irem investigar a fundo o que eles
próprios alegam, mas entristece. Por outros sinto alguma estranheza; nem é
repulsa ou raiva, é estranheza; como podem passar o que acreditam ser um meio
de libertação espiritual ou meio de contribuir para a felicidade e iluminação
de alguém e fazer-se cobrar de modo a manter estilos de vida de luxo? Até entendo
que cobrem- não concordo a maioria das vezes, mas entendo que pode haver
vantagens em se abstraírem do mundo normal para servir uma causa ou chamamento-
mas a causa ou chamamento deve ser a espiritualidade, a Luz, o bem-estar emocional,
físico e espiritual de todos... Não o chamamento duma casa luxuosa, um Ferrari
a porta ou viagens de luxo, sensualidade desenfreada e egocentrismo encapotado
de falsa modéstia
Agora uma confissão muito pessoal que se calhar chocará ademais
pelo que escrevi há pouco
Desde os 8 anos que tenho episódios menos normais ou explicáveis
pela ciência como a entendemos hoje- embora para mim tudo é ciência apenas a
operar sobre leis que ainda não entendo embora tão mensuráveis e reais quanto a
lei da gravidade ou de campos magnéticos, da termo dinâmica, etc. Já raciocinei
e raciocino tantas vezes o que me sucede desde criança mas facto é que é a
minha realidade, é para mim facto assumido de que há algo mais do que consigo
explicar ou (por vezes) empiricamente provar. A minha infância e juventude
foram marcadas por vários episódios que poderiam pelos mais conhecedores destas
coisas do misticismo ser apelidadas de paranormais. Fui sacerdote, aos 19 fui
sacerdote de Melquisedeque, aos 22 fui ordenado sumo sacerdote de
Melquisedeque, impus as mãos sobre centenas de pessoas- literalmente, para dar bênçãos
de conforto, saúde e orientação e, quando assim sentisse, falar o que via para além
do físico- fossem coisas passadas, presentes ou potenciais. Não há futuro na
pedra mas há coisas mais prováveis que outras e por vezes, sim, acredito, é possível
ver o que pode vir a acontecer se o presente curso de escolhas não for alterado.
Sai da igreja que me formou porque aprofundei conhecimento a ponto de já
encontrar mais incongruência que conseguia comportar e menos humanismo e compaixão
pura do que gostaria. Sai aos 24.
Nos últimos 14 anos tenho estudado os Vedas, Puranas, Upanishads,
Al Corão, cabala, livros gnósticos, Épico de Gilgamesh, Papiro de Ani, Livro de
Caminhar para o Dia (nome real do Livro dos Mortos), muitos tratados de filósofos,
místicos e historiadores antigos desde os mais clássicos a Plutarco, Heródoto, Plínio,
Asclépio, todos os Hipocefalos que encontrei, o Popol Vuh maia, o Códex de
Dresden, Escritos de jesuítas e cistercienses que coligiram a tradição oral das
crenças ameríndias e Aborígenes do pacifico, o Bardo Thedol tibetano, as
cronicas e mitos de Erishkigal e outros da Suméria, relatos de Júlio Cesar
acerca dos celtas (eles não tinham escrita e é um risco agridoce ler o que o
vencedor escreve), livros de seculo 18 e 19 de coletâneas de tradições eslavas
e nórdicas (um dos meus preferidos é "The Golden Bough" que recomendo
vivamente a quem quer ver como tudo se interliga e como uns emprestam a outros
suas crenças ou suas repulsas), Allan Kardec, Chico Xavier, Madame Blavatsky, Aleister
Crowley, John Dee, etc.
Até li historia e proto-história, lendas de culturas e monumentos
e religiões desaparecidas, culturas alegadamente iluminadas subterrâneas, astronomia,
astrologia (lendo tratados de desde cerca de 500 A.C. ate a idade média),
ufologia e física quântica. Movido pelo meu gosto por medicina não convencional
e pelo meu estudo e gosto pela cultura europeia pré cristianização, busquei (e
não foi fácil encontrar livros sérios com estudos e bibliografias) herbologia,
litoterapia, reiki, etc. Busquei também obter bases de paganismo, totemismo,
animismo, xamanismo, neo paganismo, Wicca, misticismo New age, 7 raios de luz,
gerações de luz (crianças índigo, cristal, etc.), personalidades chave no
misticismo New age (St Germain, etc.) numerologia, misticismo dos alfabetos,
simbologia maçónica (essa que aprendi na igreja que frequentei na adolescência
e inicio de adulto), feng shui, budismo, etc sempre com livros o mais antigos possíveis-
mínimo de 150 anos, mas o ideal com bem mais. Procurei conhecer não só métodos
de comunicação com o outro lado, vulgo divinação ou adivinhação, mas a sua
historicidade, antiguidade, autores, buscando quem escreveu sobre isto antes e
antes e antes e em que contexto, ai aprofundou um pouco mais sobre astrologia,
cartas (tarot e oráculos), necromancia, I-Ching, runas, pendulo, radioestesia,
necromancia, palmestria, etc.
No fim de tudo e com tanto por percorrer ainda não sei o
que pensar. Não sei acerca dos caminhos- uns vejo como mais práticos outros
muito como quem quer dizer o que se quer ouvir- facilitismo ideológico é um chamariz
para paralisia intelectual e entorpecimento emocional e da vontade própria. Por
outro lado, os episódios menos cientificamente explicáveis continuam a suceder na
minha vida e a sensação de chamamento ou vocação é tão forte hoje em mim como o
foi aos 8 anos de idade. Estou a tentar elaborar algo que seja uma experiencia
de escape e veiculo para mim mas que seja para o beneficio real espiritual,
emocional, psicológico e se possível físico dos que me rodeiam tanto quanto o
meu.
Esta ultima parte de confissão é para que entendam que não
desdenho praticantes ou ideologias, apenas acho que seremos mais livre, felizes
e- a meu ver, iluminados, se quando face a algo (seja no campo emocional, psicológico
ou psíquico/espiritual), formos um pouco mais inquisitivos, mais auto didatas,
mais mente aberta sem dúvida alguma mas sem ceder de certas
"guidelines"
1- Um
terapeuta ou sacerdote ou o que lhe chamemos pode propor escolhas difíceis,
dizer algo que não entendemos no momento, magoar ate porque as vezes ser direto
magoa, mas NUNCA pode ser alguém que nos prende a si nem nos faz pesar a consciência,
a carteira ou a dignidade.
2- Fazer
aos outros como queremos que façam a nós- NUNCA esquecer a importância de ao
seguir um caminho ou buscar por um, de apoiar todos os que nos rodeiam; sem
complexo de mártir mas também sem ser agiotas ou apáticos. Se o que fazemos
agora é aberrante face ao que buscamos como destino final, então não é logico, benéfico
ou real
3- O
propósito de toda a criação, a meu ver, é a felicidade; se um caminho ou pessoa
(incluindo nos mesmos) não esta a contribuir para a liberdade intelectual,
maturidade emocional, perda de medos e complexos, se não ajuda a aumentar a
auto estima e baixar o ego, se aponta mais diferenças que semelhanças entre as
pessoas, se propõe divisão e preconceito e não pontes, então não é, por raiz,
algo Iluminado, Bom ou Divino
Obrigado pela paciência em ler
este pobre ignorante que tem de aprender a resumir as ideias de forma mais curta
e pertinente. Bem hajam e sejam felizes :)