Falar sobre depressão é dificil por duas razões, porque nos expõe "per se" e porque nos arriscamos a imensos conceitos errados. Depressão não é estar triste nem tampouco é ser uma pessoa triste. É tanto mais do que consigo por palavras expor. É, acima de tudo, algo que entranha sem que notemos. Uma noção de baixo valor, uma gestão de expectativas idilica, uma auto exigência impossível, uma tolerância exagerada para com o abuso (verbal, fisico, emocional) porque se primeiro reagimos com estranheza ou depois pomos um travão ou passamos a ver como norma e depois como merecido até que o vejamos como facto. A depressão não é um traço de caracter e nem é uma mera neura ou ansiedade. É, para mim, passar todas as fases da dor: Negação, Raiva, Depressão (ai sim a fase em que a tristeza começa a ser obvia mas como sintoma de algo maior), Negociar (porque tentamos enganar a nós mesmos e "compramos" tempo, adiando uma solução, enchendo os dias com pessoas, eventos e coisas para tapar o buraco da alma e amiude usando a propria auto estima como moeda de troca por um resquicio de respeito e dignidade) e Aceitação- quando finalmente entendemos que não temos episódios ou momentos, temos sintomas. Para mim incluiu ataques de pânico ao ponto de ir para o hospital 4 vezes num mês, hiperventilar ao sair de casa, agorafobia, vazio mental, dificuldade de concentração, impossibilidade de completar uma tarefa porque me esquecia do que estava a fazer e porquê (como cozinhar mas nao comer, sair para as compras e parar a meio caminho e não me lembrar onde estava ou como ali tinha chegado ou onde ia, etc), insónias brutais ou uns dias com ataques de sono subito. Também incluiu pensar tanto em suicidio que estudei o tema, métodos que fossem eficazes e limpos e que fossem menos gráficos de chocar alguem. Pensei e escrevi como distribuir meus poucos bens. Arranjei madrinha de emergências para a cadela. Comprei corda, fiz o nó, guardei. Tudo arrumado, data fixada. Foi sendo adiada por aparecerem sempre pessoas no caminho - porque Deus não dorme, que duma ou doutra forma me interrompiam a pedir algo. Passei a ver a morte por suicidio primeiro com ansiedade, depois com uma naturalidade assustadora. Passou-me essa fase. Seguiu-se uma vulnerabilidade sentimental extrema, uma sinceridade exagerada, uma sensação de obrigação de entrega completa e não saudavel que foi retribuida por quem menos esperava com engano, traição, mentira, ilusão e depois abandono com altivez. Ai doeu. Mas só bati no fundo ao perceber que o meu problema ter deixado me levar a tal, sem nada fazer senão achar que é normal e ainda pedir desculpa. O cumulo foi ver que chegara ao ponto de aceitar comportamentos inaceitáveis simplesmente porque eram correntes e porque a minha abertura era confundida com fraqueza. Tenho issues de auto estima? Sim. news flash- todos temos apenas em graus diferentes e uns admitimos e buscamos ajuda e mudamos e outros não. Passei o ano passado com muita dificuldade o que me fez vulneravel e propenso a depressão- agravada pela sociopatia e por, ainda que não maldoso per se, não justificado abuso que piorou tudo? Sim. Sabem a minha história toda? Não, como poderiam, se nem eu sei? Para ajudar a descida ao abismo da depressão em Outubro descobri polipos no intestino. Em Novembro apanhei um susto de cancro- a ironia de ter dito em Agosto á pessoa que tinha esse pressentimento é na verdade uma farpa. Descobri que tenho afinal uma massa dubia no intestino mas que não se mexerá até dar problemas tal como o meu nervo óptico que em Novembro também percebi decaiu tanto que o glaucoma deixou de ser probabilidade para ter prazo certo para ter de ser tratado. Contei, desabafei, pedi ajuda? Não, porque deixei de acreditar que alguém se importaria. Porque pior do que não ser ouvido é ser ouvido com pena ou arrogância e por isso escolhi engolir, escolhi lidar com isso primeiro sozinho, depois com a médica, depois com psicologa e finalmente com Deus. Preferia ter podido contar a esse amigo. De tantos que nunca me fizeram dano- moral, emocional ou espiritual, era a ele que queria contar. Não o fiz. Porque se nunca acreditei que há más pessoas, entendi a dado ponto que tb não há 100% boas pessoas, que não posso aceitar tudo e rematar "mas é boa pessoa". Há uma leveza no facto de olhar para tudo isto e ainda ver nele uma centelha de luz- que insiste em não ver em si mesmo, mas uma libertação incomensurável de começar a reaprender- sem soberba ou modéstia falsa- o quão eu posso ser forte e brilhar não só por outros mas para mim mesmo.
Liberto-te e liberto-me, de culpa, pena e medo. Com tantos defeitos, foi preciso cair, foi preciso sentir o frio na espinha de passar ao lado do vale da morte pela 3ªvez, foi preciso deixar tudo isto suceder até implodir e explodir para me esvaziar a mente, alma e coração num frio profundo e só para perceber finalmente aos 38anos de idade que a centelha que vejo em todos, o potencial para o bem, a força de se reinventar e reconstruir, a capacidade para cura no âmago da alma, afinal também há em mim. Passei a vida a ver noutros uma luz e a ser o espelho dessa luz para que se amassem e perdoassem e fossem felizes- mesmo se ou quando depois partiam, só para perceber agora que pintava o reverso de negro, a mim mesmo me vestia de antitese ou na melhor das hipoteses duma capacidade inocua, valor nulo senão o medido pela utilidade para com outros e de completamente ausente beleza (fisica, emocional ou espiritual) senão na medida que impactasse positivamente na vida de outra pessoa que não eu. Sair da depressão não é muito diferente do processo de escalar- não importa em que altitude estejamos, importa saber ONDE estamos, onde assentam os pés finalmente firmes e recomeçar a partir do ponto em que fomos genuinamente felizes, livres, sem complexos, sem vergonha ou pena de nos mesmos, quando percebiamos que podemos respeitar todos e amar todos sem por em causa a nossa integridade fisica, moral, emocional e espiritual.Não estou no topo, nem mesmo sei se estou a meio caminho. Não me importa, porque não estou nem parado, a derrapar ou a dar um salto para a frente e dois trambolhões para trás. Estou livre, estou a caminhar e estou bem.Ainda tenho momentos de ansiedade, a agorafobia não se esvaneceu, ainda tenho brancas (o que prosaicamente chamo de peidos mentais), ainda procuro o que quero "ser quando for grande", mas agora pelo menos já tirei os oculos escuros da ilusão e expectativas toldadas pelo medo e começo a usar as mesmas ferramentas que empunhei por outros para o meu próprio crescimento. O não ter ficado amargo, o não ter cedido á fase de ira, rejeição/negação ou culpa, o estar bem o suficiente para falar disto abertamente e com a convicção de estar a crescer e mudar hábitos, escolhas e perspectivas sem com isso perder os valores mais positivos que me incutiram e que guardo na alma, é em si uma vitória e faz de mim hoje menos triste por ontem, menos confuso por hoje e menos ansioso ou temeroso pelo amanhã. Não tenham pena ou medo se alguém um dia vos pedir ajuda, não fujam de pedir ajuda vocês mesmos, não vejam na depressão um traço de caracter porque o não é é uma condição de saúde temporária como uma gripe trata-se com medicamentos e falando sobre isso- não se pega, não define quem a pessoa é (embora temporariamente iluda do que não é) e, por favor, não abandonem quem vocês percebem precisa de ajuda porque é dificil. É ai que se precisa de um amigo, nao tanto com palavras sabias ou ouvidos pacientes mas mais para mostrar que há mais e melhor fora do redemoinho temporário depressivo. Mas se escolherem fugir, se quiserem se convencer que é "más energias" e "má onda" uma pessoa passar uma depressão, não se convençam de que estão a rodear-se de luz e positivismo, estão a vestir-se de medo, estão a fugir do que pode se revelar ser uma oportunidade para o VOSSO proprio crescimento e a deixar alguém que já se acha pouco a lutar por si só contra si mesma até que colapse e ou desiste de lutar ou reaprende a canalizar os seus esforços. Tentar e falhar, tentar e não aguentar, tentar e sair porque não querem nossa ajuda é uma coisa...mas fugir e querer acreditar que é certo só porque é confortavel e seguro...bem ai podem ter vocês mesmos algo para falar e tratar. E eu ainda estarei aqui para vos ouvir e abraçar, eu ainda estou aqui para te ouvir e abraçar, porque agora ouço e abraço a mim mesmo primeiro e sei aquilo por que podes estar a passar. Bem hajam pela paciência em me ler e tenham um ótimo dia.
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