Na Avenida de Roma em Lisboa, uma pastelaria tem 4 funcionarios, os quatro teem contrato de trabalho de 4 horas. Custaria o mesmo à empresa pagar 2 funcionarios a 8 horas? Não, assim nao teem de dar subsidio de alimentação, não se gasta em contribuições de irs nem segurança social por ser pagamento abaixo do salario minimo e ganha-se uma força de manobra tremenda para pressionar funcionários a fazer todos os dias cerca de 30minuos por dia e não protestar pois o que não falta é gente desesperada para aceitar nem que seja 220€, maus tratos verbais e horas extra não pagas. O patrão após um ano e meio de abrir o negocio vai abrir mais dois este ano- ao mesmo tempo em mais 2 locais.
Na maioria das empresas de trabalho temporário (vulgo ett's) neste momento procura-se trabalhadores para trabalhos part-time, vagas aos pares para 4 a 5 horas- a mesma questão de preferirem assim para poder pagar menos e ser mais facil a rotatividade ou despedimento. Na maioria das ett's ha formulários onde se pergunta não só o normal requerido mas- ao mesmo tempo em que ninguém me perguntou em 5 empresas, pelo meu curriculo, habilitações literarias ou experiencia de trabalho, mas todas perguntaram: Se tenho filhos, Quantos e que idade teem, quantos dependentes tenho e numa ett ate perguntaram se tenho casa propria ou alugada(!).
Ao indagar o porquê de tal, foi-me negada qualquer explicação excepto por uma das empresas de recrutamento, que me disse que era caso fosse aceite para ser mais facil calcular o IRS. É obvio, e eu disse, que não é factual- quem declara o IRS é o próprio trabalhador. Todos os anos - mesmo com o sistema informatizado, tenho de voltar a colocar a cada ano se tenho dependentes ou não, se ainda estou solteiro, etc. É uma clarissima forma de preconceito, de filtrar quem tem filhos pequenos- pois avaliam-se como menos produtivos e menos maleaveis e ao mesmo tempo mais chantageaveis pois teem mais a perder, quem tem contas a pagar de casa propria, etc etc. Coisas que nada implicarao na performance e não são directo reflexo de beneficio ou prejuizo a empresa.
Ironicamente, nenhum outro pais na U.E. pergunta nada disto e em a maioria dos paises nórdicos é mesmo ilegal- assim como nos E.U.A. e no Brasil, colocar muitas das perguntas e propostas que se fazem nas entrevistas em Portugal- e isto inclui as que as empresas de trabalho temporário fazem em nome de outrém.
Na maioria das empresas de trabalho temporário (vulgo ett's) neste momento procura-se trabalhadores para trabalhos part-time, vagas aos pares para 4 a 5 horas- a mesma questão de preferirem assim para poder pagar menos e ser mais facil a rotatividade ou despedimento. Na maioria das ett's ha formulários onde se pergunta não só o normal requerido mas- ao mesmo tempo em que ninguém me perguntou em 5 empresas, pelo meu curriculo, habilitações literarias ou experiencia de trabalho, mas todas perguntaram: Se tenho filhos, Quantos e que idade teem, quantos dependentes tenho e numa ett ate perguntaram se tenho casa propria ou alugada(!).
Ao indagar o porquê de tal, foi-me negada qualquer explicação excepto por uma das empresas de recrutamento, que me disse que era caso fosse aceite para ser mais facil calcular o IRS. É obvio, e eu disse, que não é factual- quem declara o IRS é o próprio trabalhador. Todos os anos - mesmo com o sistema informatizado, tenho de voltar a colocar a cada ano se tenho dependentes ou não, se ainda estou solteiro, etc. É uma clarissima forma de preconceito, de filtrar quem tem filhos pequenos- pois avaliam-se como menos produtivos e menos maleaveis e ao mesmo tempo mais chantageaveis pois teem mais a perder, quem tem contas a pagar de casa propria, etc etc. Coisas que nada implicarao na performance e não são directo reflexo de beneficio ou prejuizo a empresa.
Ironicamente, nenhum outro pais na U.E. pergunta nada disto e em a maioria dos paises nórdicos é mesmo ilegal- assim como nos E.U.A. e no Brasil, colocar muitas das perguntas e propostas que se fazem nas entrevistas em Portugal- e isto inclui as que as empresas de trabalho temporário fazem em nome de outrém.
Na restauração as vagas vão sendo, poucas, de part-time ou se de tempo inteiro a pagar 485€ e sem subsidio de alimentação- quer o funcionário goste ou não e mesmo que seja uma pastelaria (onde por defeito não há confeção de refeições), tem que se aceitar. E mesmo assim cada vez vejo mais abuso verbal e emocional nestes ulgares. A proxima vez que forem a um café vejam a tensão nos olhos dos funcionários, o à vontade de dar ordens, os gritos, os comentarios depreciativos que gerentes fazem aos empregados e entre eles à frente dos clientes.
Nas telecomunicações, um dos sectores com maior contratação neste momento, quando é vendas ou não ha salario base ou é decerca de 200€. Entendo e concordo com planos comissionais mas dar uma base tão imoralmente baixa é fomentar uma competitividade nao saudavel, um stress inevitavel que vão levar para casa e uma atitude pouco honesta no trabalho, pois se ganham 200€ acham que vão pensar duas vezes em enganar um idoso ao telefone para comprar um cartão de credito, colchão ou internet de 200Mb que nunca vai usar? Onde fica a moral se temos a barriga vazia e casa para pagar?
Ainda nas telecomunicações, a empresa mais forte do mercado paga salario minimo a pouco mais de 80% dos seus funcionarios ( e são milhares deles)- uns com planos de comissoes ou premios de produtividade (manipulados por formulas desenhadas a puxar pelas metas de forma a serem cada vez mais inalcançaveis) quando ao mesmo tempo o ordenado médio de membros da direcção é de 1 milhão de euros por mês (há 4 dos membros do conselho na lista da Forbes há 5 anos consecutivos), os líderes (ou é chefes?) que fomentam discordia entre as equipas- ainda que isso signifique perder produtividade e como tal dinheiro para eles proprios tanto quanto para empresa e trabalhador subordinado (mas enebriados num status ilusorio), são quem permanece mais tempo na sua posição, conquanto com testes complexos para acesso a cargos de liderança as 3 maiores notas de sempre que resultaram também em bons desempenhos quando efectivamente em funções, estiveram muito pouco tempo no lugar- incomodavam demais por chocar os seus pares ao mostrar que se fazia mais e melhor ao tratar as pessoas com dignidade. O controlo de qualidade, antes um mecanismo que se regia por regras estabelecidas que embora não perfeitas mas funcionava, agora obriga auditores a que tenham de dar pelo menos 10% de avaliações com a nota zero- quer o trabalhador alvo de auditoria o mereça ou não. A opção é simples, o auditor perde direito de premio (mesmo que tivesse ultrapassado metas de produtividade e de qualidade), fica na calha de despedimento e alguem se sentara a seu lado com um cronometro e um bloco de notas (isto não é uma metafora, é mesmo assim).
Mudam-se palavras e os seus significados, no ambito de entrevistas de trabalho e no dia a dia dos mesmos. "Procura-se pessoa para fazer inqueritos" significa vendas porta a porta , comissão ailciante é traduzido por base de 150€ e uma média de 4€ por cada contrato novo. "Procuram-se funcionários simpaticos"- mas o que é que haveriam de querer , mal educados (?). Não, o que se pretende e vê na entrevista é que se quer alguém com muita maleabilidade horaria, disposta a trabalhar com muito stress e muito pouco dinheiro; a parte de simpatico deveria ler subserviente e acomodado e ainda sempre com sorriso nos labios, como que de gratidão por ter o direito a ser explorado.
Dignidade no trabalho é acima de tudo honestidade; nunca esperei, quis ou beneficiei- nem pratiquei, palmadinhas nas costas ou elogios vaos; um trabalho é um trabalho não uma irmandade. Há metas e exigencias e expectativas- mas é de parte a parte. Numeros sao importantes claro, a nivel macro é preciso saber avaliar as coisas para ver o rumo geral. Mas se não olharmos para os numeros e tarefas e neles virmos proposito, se não virmos caras e personalidades, não estaremos apenas a ser desumanos estaremos a ser tolos.
Um funcionario que nunca fazia os testes semanais de avaliação tecnica, que chegava atrasado 3 a 4 vezes por semana, tinha uma prestação baixa- embora muito mais conhecedor da matéria que muitos (eu incluido), demorava mais tempo que devia nas suas pausas, estava cada vez mais desencorajado e o unico estimulo que tinha era ocasionalmente alguem o chamar indirectamente de tolo, preguiçoso, gritar com ele, "the usual". Porque o conhecia, porque me esforcei para o conhecer, quando esteve na minha equipa, estudei na internet alguns termos e videos de surf (really:P), fiz um calculo de quanto ganha por minuto e quando (aos centimos) perdia com a produção dele. Sentei com ele, mostrei os euros que ele custava a empresa por chegar atrasado, mostrei o que ele podia estar a ganhar com muito pouco esforço, mostrei os preços de artigos que ele quer comprar mas que agora nao podia porque sem premio nao tem dinheiro para tal, mostrei o meu relatorio sobre o seu trabalho e as provas- factos, casos especificos de sucesso dele proprio, em que ficou claro que ele sabia muito mais do que os testes que ele evitava fazer, fiz umas comparações simples (sou muito ignorante de desportos) com surf, uma analogia com o mar e as ondas. Negociei as pausas- se o que ele precisa para trabalhar bem é uma pausa ocasional, porque não em vez de demorar muito numa, fazer duas. Se chegar atrasado ou se se demorar mais do que deve nas pausas- a percentagem de tempo é directamente a percentagem de produtividade que quero ver aumentada na sua performance. Se sinceramente ele acha que precisa de parar mais 4% do tempo de trabalho para respirar, se é isso que o vai ajudar a acalmar e voltar ao trabalho com mais energia e disponibiildade, porque não? A conversa durou 30 minutos, depois levei-o a um café ao lado para ele ter a sua pausa (uma formação não é uma pausa) para pensar nisso.
Nos 3 meses seguintes (altura em que fiz a sua avaliação trimestral e lhe apresentei com muita satisfação propria e dele; mesmo que mensalmente lhe tenha mostrado os progressos), todos os testes semanais tinham sido feitos, nunca mais chegou atrasado, as pausas ironicamente batiam todas certo mas a produtividade aumentou- de tal forma que pela primeira vez em 4 meses ia ter direito a premio de performance.
Apliquei a mesma metodologia de estudar as pessoas da equipa e dar formação especifica (conceitos de maternidade e familia a uma, termos tecnicos informaticos a outro, citei letras de musica e biografia de cantor favorito para outro, etc etc). 10 em 10 melhoraram performance e o que revelava mais resistencia a mudança e o que mais punha em causa a minha preparaçao e conhecimentos tecnicos tornaram-se, respectivamente, no segundo funcionario mais produtivo e no proximo escolhido para cargo de liderança e se tornar meu par e grande apoio. Ao detectar os pontos menos fortes, punha-os a dar a proxima formaçao ao grupo sobre precisamente esse topico. Ao detectar pontos fortes, ia ter com eles e pedia a sua opinião quando eu era confrontado com algo que sabia que eles dominavam- mesmo que já soubesse ou achasse que sabia a resposta. E muito mas mesmo muito me ensinaram, garanto.
Não fiz nada surreal, fiz o que gostaria tivessem feito comigo; so falar, mostrar o porque das coisas, valorizar, negociar e desafiar. Os meus pares na liderança chamaram-me de fraco e instilar maus habitos e que os fazia parecer mal, que não deveria ser tão proximo pois nao seria respeitado- ainda que soubesse "separar as aguas" e ocasionalmente tivesse de corrigir.
O dia em que estavam as equipas em panico, cerca de 30 pessoas a atender um fluxo invulgarmente grande de chamadas. Podia ter gritado ou andado pela sala a fazer pressão para se despacharem. Podia, mas não devia, e não fiz. Pus um a fazer a parte burocratica, sai de onde estava, sentei no meio da sala, pus um headset e comecei a atender as chamadas tambem. Passaram dois "lideres" a dizer que nao era preciso aquilo e que um lider nunca fazia aquilo. Factos? A media de tempo de chamadas desceu cerca de 30% em menos de 10 minutos, não tive de dizer nada a ninguem. Essa noite saimos cerca de 18 de nós, já depois da meia noite do trabalho e ninguem estava com pressa para ir para casa, estavam animados, a rir, a falar do dia, a falar de si mesmos. Isto é o que ficou comigo e a isto dei valor, assim como a chamada dum lider 3 graus hierarquicos acima de mim a agradecer o trabalho feito- não ao telefonema e os mails que recebi no dia a seguir pelos meus pares a dizer que eu tinha agido mal, quebrado protocolo e rebaixado a mim mesmo e à posição que ocupava.
Não fiz nada surreal, fiz o que gostaria tivessem feito comigo; so falar, mostrar o porque das coisas, valorizar, negociar e desafiar. Os meus pares na liderança chamaram-me de fraco e instilar maus habitos e que os fazia parecer mal, que não deveria ser tão proximo pois nao seria respeitado- ainda que soubesse "separar as aguas" e ocasionalmente tivesse de corrigir.
O dia em que estavam as equipas em panico, cerca de 30 pessoas a atender um fluxo invulgarmente grande de chamadas. Podia ter gritado ou andado pela sala a fazer pressão para se despacharem. Podia, mas não devia, e não fiz. Pus um a fazer a parte burocratica, sai de onde estava, sentei no meio da sala, pus um headset e comecei a atender as chamadas tambem. Passaram dois "lideres" a dizer que nao era preciso aquilo e que um lider nunca fazia aquilo. Factos? A media de tempo de chamadas desceu cerca de 30% em menos de 10 minutos, não tive de dizer nada a ninguem. Essa noite saimos cerca de 18 de nós, já depois da meia noite do trabalho e ninguem estava com pressa para ir para casa, estavam animados, a rir, a falar do dia, a falar de si mesmos. Isto é o que ficou comigo e a isto dei valor, assim como a chamada dum lider 3 graus hierarquicos acima de mim a agradecer o trabalho feito- não ao telefonema e os mails que recebi no dia a seguir pelos meus pares a dizer que eu tinha agido mal, quebrado protocolo e rebaixado a mim mesmo e à posição que ocupava.
Onde ha dignidade quando somos avaliados pela cor da pele, genero, orientação sexual, religiao, etc? Onde há inspiraçao a dignidade e estimulo ao desempenho se quem deve dar exemplo mais vulgarmente o esmaga e age com despotismo?
Para os mais duros de coração, lembraria que manter dignidade enquanto trabalhador mantem alguma paz de consciência e margem de manobra e que tratar um trabalhador com dignidade invariavelmente fara com que a pessoa verdadeiramente se revele- para bem ou não, se afira melhor o potencial e se atinja o mesmo em menos tempo, com menor artrito e muito mais proveito para todos envolvidos.
Passamos tantas ou mais horas no trabalho que em casa com os familiares, companheiros/as e amigos. Se no lugar onde passamos mais tempo somos todos dias tratados com injustiça e chamados de ineficazes e menos capazes (tantas vezes que entra na cabeça e afecta o coração)- o que acham que vamos trazer para casa? Que conversas vamos ter com nossos filhos? Que energia teremos para dar aos outros? Que espiritualidade alimentaremos? Que tempo encontraremos para visitar os pais, ajudar um filho com trabalhos de casa, perguntar a nossa cara metade pelo seu dia e realmente ouvir, quanto tenmpo ou disposição para aprendermos algo novo, fazermos algo que nos divirta e enriqueça? O tempo que estamos em casa nao vai variar muito, mas se no trabalho (seja nas entrevistas, na escola, em trabalho efectivo, etc) não entrarmos com medo ou raiva e nao sairmos com um suspiro de alivio profundo como quem saiu duma praia onde se afogava- garanto, as poucas horas do dia que ainda temos vão ser mais bem gastas, mais valorizadas, rendem mais porque não são sobrevividas ou suportadas, são vividas.
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