segunda-feira, 19 de maio de 2014

DESEMPREGO & DESIGUALDADE


Trabalhar com estatisticas é , infelizmente, amiude lidar com interpretaçoes e conveniencias mais do que com factos brutos. Hoje li uma publicação onde indica que Portugal tem uma taxa de emprego de 65.6% (http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=3921197).
Se desemprego entre pessoas de 20 a 64 anos de idade com capacidade de empregabilidade (em idade activa, não de baixa, não encarcerados, registados/legalizados, dentro do territorio nacional) é de 65.6% entao a taxa efectiva de desemprego é de 34.4%. Mas quase nunca se apresenta este numero, porque ia chocar aida mais as pessoas. Vejam todas as noticias sobre desemprego e quantas vezes este numero é dito. Mesmo neste artigo so diz a taxa de emprego é de 65.6. O que é publicado amiude por governo e media é de cerca de 15%. Ora sabemos que dentre os desempregados "empregaveis" so 32% neste momento recebem subsidio de desemprego.
Temos 34.4% activos sem emprego ;1/3 dos quais com subsidio de desemprego; ou seja da população activa empregavel os desempregados a receber subsidio compoem 11.46% e os desempregados sem o subsidio são 22.93%.
De onde vem o numero badalado de cerca de 15%" badalado na propaganda? É simples e triste. Não dizem 34 porque soa mal e da a consciencia de que somos muitos, nao se diz 11 porque os desempregados nao teem amiude mt noção de seus numeros mas suspeitam que é mais. 15%  é a taxa aproximada de desempregados com subsidio mas dentro da faixa estaria mais relevante para a interpretação e padroes actuais- entre 25 e 45 (idade apos licenciatura e estagio, em que já se estima começa a produzir com eficacia e nao em estagio e até 45 porque apos isso se deduz por analise nao so estatistica mas de interpretação sensivel/opinião versus facto, de que a partir dessa idade uma pessoa ora por familia ou por status na carreira é ingerido ja nao é tao produtivo como os outros). Que insulto para os jovens recem licenciados e outros e que insulto para os de mais de 45.
Mas olhemos para os cargos de chefia alta nas empresas medias a grandes e vemos bastantes neste interregno; vemos cada vez menos pessoas acima dos 45-e  quase nunca mulheres, naquilo que a logica dita seria a idade de produtividade se nao com mais quantidade concerteza com mais qualidade, menos riscos, mais valia por experiencia e menor instabilidade/risco emocional.
Publicar que o desemprego esta a 15% é dizer: ha muitos mais, mas so nos interessa pessoas entre 25 e 45anos para as contas de desempregados.
Isto depois reflecte-se em quem é desempregado- o que revela que o problema não são os politicos, é a sociedade, somos cada um de nós que nao tem as prioridades correctas e nao esta a ser analitico e profissional na hora de fazer castings.
No fim de Abril foi publicado no jornal "Publico", http://www.publico.pt/economia/noticia/apoios-a-quem-perdeu-subsidio-de-desemprego-aumentaram-11-num-ano-1633861, escondidinho no texto mais rapidamente se despede um homem que uma mulher (factos , nao opiniões) e que entre as mulheres a taxa de empregabilidade ou manutenção do trabalho começa a diminuir drasticamente a partir dos 35 anos. Basta consultar o site de INE, instituto nacional de estatisticas, ai os numeros estão em bruto e nao reinterpretados- mas é mais facil ler as noticias e interpretaçoes de acordo com os gostos , modas e conveniencias dos outros(?).
Uma outra coisa que é tao deturpada que quase nao se fala é que a partir dos 35 e sem duvida depois dos 39 uma mulher é vista como menos capaz e como tal menos empregavel. Porque é que isto nao se publica e investiga? Porque somos uma sociedade dominada pelo impeto sexual e excessiva e injustamente competitivo- nas areas que menos importam. Vejam a volta, quantas mulheres não magras e com mais de 35 anos trabalham na hotelaria sem ser a limpar quartos, ou na restauração sem ser nas cozinhas, ou nas lojas? Sexo vende. Ate para vender um refrigerante, carro ou manteiga "temos" de la ter uma mulher semi-nua. E estamos a melhorar? Bem começamos a ter homens novos musculados em alguns anuncios mas isto nao é ir para melhor é calar a indignação das mulheres com um caramelo. Em vez de levantarmos a barra de etica, nivelamos por baixo. Assim chegamos ao ponto em que nem homem nem mulher apos os 35/39 anos parecem apelativos, capazes ou produtivos. Abundam assim anuncios a pedir pessoal com 20 e poucos anos- alguns anuncios ate dizem especificamente so ate 30 ou so ate 35anos. Contabilizem os anuncios de emprego e vejam quantas vezes empregada/o ou funcionária/o aparecem versus o oposto de o/a- ou seja quantas vezes se escreve preferir uma mulher que um homem para determinado cargo. Cerca de 70% das vezes preferem mulheres. Vejam depois as idades , cerca de 80% indicam ate 35 (90% destes dirão ate 25anos).
O problema aqui somos nos, cidadaos, que desprezamos a condição humana, desprezamos os mais velhos, desprezamos conhecimento e experiencia, valorizamos sensualidade, aparencia fisica, preferimos pessoas com baixos padroes de moral para que nao tenham direito de nos avaliar, nao permitimos mulheres de chegar a liderança ou quando o fazemos não damos a mesma liberdade que damos a homens, entre os homens preferimos contratar quem tem filhos mas entre as mulheres preferimos as solteiras ou não maes e por mais "in" e "cool" que nos queiramos ver não empregamos pessoas com tatuagens, homens de cabelo comprido, mulheres com menos que copa C, pessoas com piercings, homossexuais assumidos (eles e elas e não me refiro aos flamboyant, mesmo os mais discretos mas ainda assim de bem consigo mesmos) são empregaveis para 4 sectores tendenciosamente restauração, hotelaria, moda -roupa e cabelo, e telecomunicações (ya grande lobby, so se tiverem nomes de familia sonantes e ai o lobby nao é gay mas de familias influentes).
Esta é a sociedade que temos, os cidadaos irresponsaveis que somos que preferimos culpar os outros, preferimos ler materia digerida e reinterpretada por outros a ir a procura de fontes e factos talvez por preguiça talvez porque temos medo do que encontraremos e ameio a  tal algum grau de "mea culpa".
Se queremos inverter o desemprego, se queremos combater preconceito de genero e outros, temos enquanto individuos nao de votar em quem achamos nos vai salvar/compensar, mas no dia a dia, abrir os olhos. Ver que uma mulher  é tao empregavel quanto as suas capacidades e empenho, que uma pessoa- homem ou mulher, deve ser empregue e manter esse trabalho enquanto for produtiva e nao enquanto não tiver rugas ou quando perder acne, quem um homem ou mulher com tatuagens não o impede de ser um trabalhador eficaz e respeitador, que uma mulher homossexual não é melhor nem pior que um homem heterossexual para liderar uma equipa. O que esta mal somos nos, é o termos ainda muitas caixinhas e rotulos mentais e aplica-los ao espelho, em casa, na rua, no trabalho e no café do lado. Querem reverter e tornar a sociedade um pouco mais justa e equalitaria- nem que seja porque vao tb envelhecer e perder essa carinha laroca eventualmente e vao ter filhas e filhos e ver atraves deles a injustiça que voces prolongaram? Comecem hoje, agora e aqui. Ninguem é insubstituivel mas ninguem é invisivel também. Quando os factores de conhecimento adquirido, esforço, estabilidade emocional, empenho mental e eficacia comprovada valerem mais que a idade, genero, firmeza dos seios e musculos e que as validaçoes constantes do ego e sexualidade, estaremos no bom caminho.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Da Fé e do Amor


Uma das questões que me tem acompanhado e  dominado a vida, mais que quase qualquer outra coisa, é a busca pelo Divino. Seja "isso" o que for, quem for.
Aos 11 comecei a ler a Biblia, li os Vedas (tenho familia indiana), varios livros de diferentes denominações cristãs, li livros sobre budismo, islão, judaismo, sufismo, magia (não neo paganismo mas autores como Eliphas Levi, Agrippa, etc) e pude atraves dos meus avos falar com pessoas de variadas crenças.
Aos 14 anos , dia 19 de Maio de 1992, comecei uma viagem de 10 anos, sendo batizado a 27 de Junho de 1992, mais tarde ordenado ao sacerdócio,servido como lider de congregação e muitas outras funções e eventualmente membro do conselho de 12 que entre outras coisas avaliava as questoes disciplinares mais serias que por vezes surgiam.
Foi nesse mesmo conselho, numa reunião de Sábado, dia 7 de Julho de 2001, a cerca de um mês de fazer 24 anos - depois de ter falado em privado com o nosso lider e meu amigo, levantei-me e disse algo semelhante a isto:
"Lamento informar mas devo sair deste conselho e proponho que me excomunguem. Primeiro tenho diferenças por agora insanaveis de teor filosofico e teologico que nao consigo conciliar com a voz da igreja e , modestia a parte, não adianta me mostrar uma ou mil escrituras, conheço-as e conhecem-me bem suficiente para saber que sou capaz de as rebater e debater e dissecar rapida e incontestavelmente. No fim do dia, nao entrei pelas pessoas nem pelo que esta escrito mas pelo que senti e é esse sentimento que já nao aqui encontro. Segundo, embora nao tenha agido com base nesses sentimentos, sou homossexual e depois de muita leitura, muita oração e muito jejum (cheguei a jejuar 24 horas seguidas- sem sequer àgua, todos os domingos durante 4 meses) não consigo acreditar que seja pecado querer so amar e ser amado. Não é a carne que me chama, é o coração, é a consciencia."
Dois dos membros do conselho e o patriarca começaram, acto continuo, a chorar. Um disse que nao se excomunga uma pessoa por ser homossexual ou por ter uma crise de fé. Eu puxei das escrituras e debati que o grau de sacerdócio que detinha, as promessas, os votos que fiz, eram serios demais para agir de outra forma. E se eu estiver errado de facto? E se daqui a uns tempos quiser voltar em pleno, como limparia a consciencia? Como poderia ser livre e - se eu estiver errado e a igreja e sua doutrina forem as correctas, por a prova os meus sentimentos e pensamentos sem insultar e magoar o meu Pai Celestial e ser um hipocrita face aos convênios que fiz?
A excomunhão é o levantar duma benção, mas não é uma maldição. É o suspender dum convenio, duma espada sobre a minha cabeça. Se estiver certo, não ha nada a temer. Se estiver errado, as minhas exploraçoes, fisicas e as teologicas, serão uma bofetada de ingratidão na cara de Deus em quem ainda e sempre acreditarei e sempre quis ter por Amigo.
O lider levanta-se, inclina-se e abraça-me e so diz: "Se Cristo te ama, quem somos nós para fazer o contrário?" Garantiu que seriam fieis a letra da lei e assegurou que fosse qual fosse a decisao era sempre um irmao, sempre um amigo e sempre bem vindo.
Ate hoje, esta palavra foi sempre e repetidamente cumprida. Por isto também, devo gratidao e respeito a estas pessoas.

Não foi de animo leve que entrei numa igreja e fiz as promessas e votos que fiz, não foi em vão que sai. Segui o meu coração, tentei não ser impulsivo mas tambem nao estrangular as minhas paixoes. Um sentimento estrangulado afecta todo um ser. Devemos confrontar os nossos sentimentos, os bons e os menos bons, arrazoar, pesar, pensar, calcular o impacto na nossa vida e na dos que nos rodeiam. Se a decisão afecta o caminho que percorremos, seja religioso, ideologico, politico, medidas as consequencias, há mais a temer de cair em hipocrisia que da sensação isoladora de nos sentirmos sós. Vale mais uma solidão honrada que uma companhia indesejada ou construida em mentiras.

Continuo a acreditar em Deus com todo o meu coração, continuo a buscá-lo/la, leio, ouço, medito, oro, busco, raciocino e tento ouvir e seguir o que sinto ser, na minha limitada esfera de conhecimento e imperfeiçoes tantas, o caminho correcto aqui e agora.

Ainda tenho tantas questoes, tenho saudades da sensação de utilidade que tinha, a sensação de apoio moral e carinho genuino que por mais que goste nao posso deixar que seja uma muleta emocional nem uma moeda de troca pela tranquilidade e coerencia.

Continuarei esta busca enquanto houver um sopro de vida em mim; se a dado momento desta peregrinação notar que fiz 360º, não me preocupa o que dirão os que nestes anos me conheceram, os que possam ficar espantados ou achar estranho. O que fiz, o que disse, foi sempre com sinceridade para comigo mesmo e para com o Deus idealizado no meu coração- um ser, talvez um Pai ou Mãe Divino, que nos criou, que nos ama, que conquanto tenha a capacidade de sentir ódio não o sente, mas antes mágoa. Um Deus que não castiga por ser diferente quando o coração é sincero e tenta fazer o que pode ameio a imperfeiçao e barulho dum mundo louco e apressado. Por muito que tenha passado e passe, acredito , como disse o inadvertido poeta ao escrever/rasgar na parede em Auschwitz antes d ir para o que sabia ser a sua morte certa:
"Acredito no sol, mesmo quando não brilha, acredito. Acredito no amor, mesmo quando o não sinto, acredito. Acredito em Deus, mesmo quando Deus esta silencioso, eu acredito"

Desde então estudei hinduismo, islão, cabala, budismo, neo paganismo, wicca, astrologia, numerologia, não sei quantas "logias" mais  e dentro de cada as suas variadas interpretações, assim como argumentos nihilistas e ateus/ateistas,  e a procura continua.

Por ora, sinto-me num enclave. Demasiado convicto de que a homossexualidade não é "per se" uma ofensa  a Deus para me integrar numa igreja; por outro lado, com uma componente espiritual e paixão por conhecimento e aproximação de Divindade que me torna aberração em quase qualquer meio e certamente entre a maioria dos homossexuais que encontrei ao longo destes 12 anos. Para uns como eu amo é uma razão de pena, para outros acreditar em Deus parece tambem o ser pois acham que devo ser menos inteligente ou menos emocionalmente corajoso para carecer muletas emocionais e amigos imaginários.

Mas não cedo pela aceitação seja de quem for; amar e crer são coisas demasiado profundas, viscerais diria, para por em causa por algo tão efemero e oco como aceitação de pares dum ou outro grupo social.

Por vezes nao sei se a minha estranheza é teimosia, mas por isso mesmo não paro de ler, de ouvir, de debater, de a cada resposta obtida a contrapor com mais questoes. Esta busca, este não baixar os braços, esta vontade de me entender tanto quanto o conceito de Divino, define-me e agir de outro modo- mesmo que assegurasse a companhia de muitos ou o companheirismo de um especial, não me satisfaria pois ao fim do dia todos tiramos a mascara. Quero me deitar de bem comigo mesmo, de bem com Deus, de bem com quem me rodeia - tentar.

Onde esta estrada me leva, eu não sei; não posso pedir muita ajuda e nao a posso dar porque estamos todos no mesmo barco. Mas quero poder me deitar em paz, sair de casa e saber que se algo nesse dia suceder para encurtar a minha viagem deste lado, ao passar o véu, com a vergonha de todas as minhas imperfeições, não deixarei de me sentir limpo de falsidade, não deixarei de ser "impertinente"e mesmo de joelho dobrado não evitarei levantar o queixo e olhos para cima.
 Nesse dia, que espero ainda venha longe, que atravesse o Véu, certamente muito aprenderei e provavelmente muito chorarei por coisas feitas, coisas que nao me atrevi a fazer e dizer mas que deveria pelo bem de mim e dos que me rodeiam. Nesse dia no horizonte,por razoes que não são secretas mas apenas sagradas demais para expor a quem quer que seja ate noutra margem nos encontrarmos, não saberei então melhor ou mais profundamente do que sei agora de que existe de facto uma entidade Divina, que é não uma personagem ficticia produzida pela psike faminta de conforto ou uma lenda de embalar, mas um ser real, sábio/a, poderoso/a, origem de actos, antevisões e episodios que vivi e que as leis conhecidas da presente ciência não pode explicar. Sei também que é possivel amar sem ser amado, amar alguem de tal forma que mesmo quando os caminhos não se cruzam, nunca deixamos de lhes desejar bem e de lhes enviar um pensamento positivo, um abraço, um ouvido sempre que seja preciso sem que seja esperar pela requisição.Quem crê- mesmo no silêncio aparente, quem ama- mesmo que não percepcione ser amado, nunca dá dum cesto vazio.

A fé, assim como o amor, na minha opinião imperfeita, falivel e susceptivel de mudança face a progressivo raciocinio, não é nunca- na sua acepção mais saudável e eficaz, nem canibalista nem parasitaria; deve ser autotrofica e transversal a todas as dimensoes que compoem o ser. Fe sem raciocinio, Amor sem respeito, Crença sem auto identidade e perpetuo questionar das coisas, Amor em "piloto automatico" ou como mera masturbação do ego- isto sim, esvazia a alma. Dar, amar, crer, buscar, crescer para manter a persistencia dos "porquês"? Esses não dão dum saco vazio, nem com isso se esvaziam, apenas se ramificam, abraçam cada vez mais longe e fundo no tecido da Vida, da realização emocional e intelectual e da Iluminação espiritual.

Não tenhamos pena nem medo nem asco de quem ama ou crê de forma diferente; tenhamos compaixão por quem não se ama nem se atreve a amar, tenhamos atenção por quem vende o seu individualismo e saude emocional e independencia em troca de aceitação duma pessoa ou grupo, tenhamos abertura para aceitar o facto de que ninguem pode nem deve julgar- positiva ou negativamente, seja a quem for (nem a si mesmo), por crença, cor de pele, politica, genero, idade, orientação sexual ou aparencia. Cada homem e mulher, cada alma, vale o que faz, o que escolhe ser e fazer por si e pelo bem comum. Para citar um rapaz que acho bastante sábio e compassivo, ja de há alguns anos atras, com uma vida muito dificil e muito pouco conhecida e menos ainda emulada: "Pelos seus frutos os conhecereis." Aplica-se a quem nos rodeia, a escolhas e caminhos diante de nós, a organizaçoes, a nós mesmos.

domingo, 13 de abril de 2014

Dignidade e Ambiente de Trabalho


Na Avenida de Roma em Lisboa, uma pastelaria tem 4 funcionarios, os quatro teem contrato de trabalho de 4 horas. Custaria o mesmo à empresa pagar 2 funcionarios a 8 horas? Não, assim nao teem de dar subsidio  de alimentação, não se gasta em contribuições de irs nem segurança social por ser pagamento abaixo do salario minimo e ganha-se uma força de manobra tremenda para pressionar funcionários a fazer todos os dias cerca de 30minuos por dia e não protestar pois o que não falta é gente desesperada para aceitar nem que seja 220€, maus tratos verbais e horas extra não pagas. O patrão após um ano e meio de abrir o negocio vai abrir mais dois este ano- ao mesmo tempo em mais 2 locais.

Na maioria das empresas de trabalho temporário (vulgo ett's) neste momento procura-se trabalhadores para trabalhos part-time, vagas aos pares para 4 a 5 horas- a mesma questão de preferirem assim para poder pagar menos e ser mais facil a rotatividade ou despedimento. Na maioria das ett's ha formulários onde se pergunta não só o normal requerido mas- ao mesmo tempo em que ninguém me perguntou em 5 empresas, pelo meu curriculo, habilitações literarias ou experiencia de trabalho, mas todas perguntaram: Se tenho filhos, Quantos e que idade teem, quantos dependentes tenho e numa ett ate perguntaram se tenho casa propria ou alugada(!).
Ao indagar o porquê de tal, foi-me negada qualquer explicação excepto por uma das empresas de recrutamento, que me disse que era caso fosse aceite para ser mais facil calcular o IRS. É obvio, e eu disse, que não é factual- quem declara o IRS é o próprio trabalhador. Todos os anos - mesmo com o sistema informatizado, tenho de voltar a colocar a cada ano se tenho dependentes ou não, se ainda estou solteiro, etc. É uma clarissima forma de preconceito, de filtrar quem tem filhos pequenos- pois avaliam-se como menos produtivos e menos maleaveis e ao mesmo tempo mais chantageaveis pois teem mais a perder, quem tem contas a pagar de casa propria, etc etc. Coisas que nada implicarao na performance e não são directo reflexo de beneficio ou prejuizo a empresa.
Ironicamente, nenhum outro pais na U.E. pergunta nada disto e em a maioria dos paises nórdicos é mesmo ilegal- assim como nos E.U.A. e no Brasil, colocar muitas das perguntas e propostas que se fazem nas entrevistas em Portugal- e isto inclui as que as empresas de trabalho temporário fazem em nome de outrém.

Na restauração as vagas vão sendo, poucas, de part-time ou se de tempo inteiro a pagar 485€ e sem subsidio de alimentação- quer o funcionário goste ou não e mesmo que seja uma pastelaria (onde por defeito não há confeção de refeições), tem que se aceitar. E mesmo assim cada vez vejo mais abuso verbal e emocional nestes ulgares. A proxima vez que forem a um café vejam a tensão nos olhos dos funcionários, o à vontade de dar ordens, os gritos, os comentarios depreciativos que gerentes fazem aos empregados e entre eles à frente dos clientes. 

Nas telecomunicações, um dos sectores com maior contratação neste momento, quando é vendas ou não ha salario base ou é decerca de 200€. Entendo e concordo com planos comissionais mas dar uma base tão imoralmente baixa é fomentar uma competitividade nao saudavel, um stress inevitavel que vão levar para casa e uma atitude pouco honesta no trabalho, pois se ganham 200€ acham que vão pensar duas vezes em enganar um idoso ao telefone para comprar um cartão de credito, colchão ou internet de 200Mb que nunca vai usar? Onde fica a moral se temos a barriga vazia e casa para pagar?

Ainda nas telecomunicações, a empresa mais forte do mercado paga salario minimo a pouco mais de 80% dos seus funcionarios ( e são milhares deles)- uns com planos de comissoes ou premios de produtividade (manipulados por formulas desenhadas a puxar pelas metas de forma a serem cada vez mais inalcançaveis) quando ao mesmo tempo o ordenado médio de membros da direcção é de 1 milhão de euros por mês (há 4 dos membros do conselho na lista da Forbes há 5 anos consecutivos), os líderes (ou é chefes?) que fomentam discordia entre as equipas- ainda que isso signifique perder produtividade e como tal dinheiro para eles proprios tanto quanto para empresa e trabalhador subordinado (mas enebriados num status ilusorio), são quem permanece mais tempo na sua posição, conquanto com testes complexos para acesso a cargos de liderança as 3 maiores notas de sempre que resultaram também em bons desempenhos quando efectivamente em funções, estiveram muito pouco tempo no lugar- incomodavam demais por chocar os seus pares ao mostrar que se fazia mais e melhor ao tratar as pessoas com dignidade. O controlo de qualidade, antes um mecanismo que se regia por regras estabelecidas que embora não perfeitas mas funcionava, agora obriga auditores a que tenham de dar pelo menos 10% de avaliações com a nota zero- quer o trabalhador alvo de auditoria o mereça ou não. A opção é simples, o auditor perde direito de premio (mesmo que tivesse ultrapassado metas de produtividade e de qualidade), fica na calha de despedimento e alguem se sentara a seu lado com um cronometro e um bloco de notas (isto não é uma metafora, é mesmo assim).

Mudam-se palavras e os seus significados, no ambito de entrevistas de trabalho e no dia a dia dos mesmos. "Procura-se pessoa para fazer inqueritos" significa vendas porta a porta , comissão ailciante é traduzido por base de 150€ e uma média de 4€ por cada contrato novo. "Procuram-se funcionários simpaticos"- mas o que é que haveriam de querer , mal educados (?). Não, o que se pretende e vê na entrevista é que se quer alguém com muita maleabilidade horaria, disposta a trabalhar com muito stress e muito pouco dinheiro; a parte de simpatico deveria ler subserviente e acomodado e ainda sempre com sorriso nos labios, como que de gratidão por ter o direito a ser explorado.


Dignidade no trabalho é acima de tudo honestidade; nunca esperei, quis ou beneficiei- nem pratiquei, palmadinhas nas costas ou elogios vaos; um trabalho é um trabalho não uma irmandade. Há metas e exigencias e expectativas- mas é de parte a parte. Numeros sao importantes claro, a nivel macro é preciso saber avaliar as coisas para ver o rumo geral. Mas se não olharmos para os numeros e tarefas e neles virmos proposito, se não virmos caras e personalidades, não estaremos apenas a ser desumanos estaremos a ser tolos.
Um funcionario que nunca fazia os testes semanais de avaliação tecnica, que chegava atrasado 3 a 4 vezes por semana, tinha uma prestação baixa- embora muito mais conhecedor da matéria que muitos (eu incluido), demorava mais tempo que devia nas suas pausas, estava cada vez mais desencorajado e o unico estimulo que tinha era ocasionalmente alguem o chamar indirectamente de tolo, preguiçoso, gritar com ele, "the usual". Porque o conhecia, porque me esforcei para o conhecer, quando esteve na minha equipa, estudei na internet alguns termos e videos de surf (really:P), fiz um calculo de quanto ganha por minuto e quando (aos centimos) perdia com a produção dele. Sentei com ele, mostrei os euros que ele custava a empresa por chegar atrasado, mostrei o que ele podia estar a  ganhar com muito pouco esforço, mostrei os preços de artigos que ele quer comprar mas que agora nao podia porque sem premio nao tem dinheiro para tal,  mostrei o meu relatorio sobre o seu trabalho e as provas- factos, casos especificos de sucesso dele proprio, em que ficou claro que ele sabia muito mais do que os testes que ele evitava fazer, fiz umas comparações simples (sou muito ignorante de desportos) com surf, uma analogia com o mar e as ondas. Negociei as pausas- se o que ele precisa para trabalhar bem é uma pausa ocasional, porque não em vez de demorar muito numa, fazer duas. Se chegar atrasado ou se se demorar mais do que deve nas pausas- a percentagem de tempo é directamente a percentagem de produtividade que quero ver aumentada na sua performance. Se sinceramente ele acha que precisa de parar mais 4% do tempo de trabalho para respirar, se é isso que o vai ajudar a acalmar e voltar ao trabalho com mais energia e disponibiildade, porque não? A conversa durou 30 minutos, depois levei-o a um café ao lado para ele ter a sua pausa (uma formação não é uma pausa) para pensar nisso.
Nos 3 meses seguintes (altura em que fiz a sua avaliação trimestral e lhe apresentei com muita satisfação propria e dele; mesmo que mensalmente lhe tenha mostrado os progressos), todos os testes semanais tinham sido feitos, nunca  mais chegou atrasado, as pausas ironicamente batiam todas certo mas a produtividade aumentou- de tal forma que pela primeira vez em 4 meses ia ter direito a premio de performance.
Apliquei a mesma metodologia de estudar as pessoas da equipa e dar formação especifica (conceitos de maternidade e familia a uma, termos tecnicos informaticos a outro, citei letras de musica e biografia de cantor favorito para outro, etc etc). 10 em 10 melhoraram performance e o que revelava mais resistencia a mudança e o que mais punha em causa a minha preparaçao e conhecimentos tecnicos tornaram-se, respectivamente, no segundo funcionario mais produtivo e no proximo escolhido para cargo de liderança e se tornar meu par e grande apoio. Ao detectar os pontos menos fortes, punha-os a dar a proxima formaçao ao grupo sobre precisamente esse topico. Ao detectar pontos fortes, ia ter com eles e pedia a sua opinião quando eu era confrontado com algo que sabia que eles dominavam- mesmo que já soubesse ou achasse que sabia a resposta. E muito mas mesmo muito me ensinaram, garanto.

Não fiz nada surreal, fiz o que gostaria tivessem feito comigo; so falar, mostrar o porque das coisas, valorizar, negociar e desafiar. Os meus pares na liderança chamaram-me de fraco e instilar maus habitos e que os fazia parecer mal, que não deveria ser tão proximo pois nao seria respeitado- ainda que soubesse "separar as aguas" e ocasionalmente tivesse de corrigir.

O dia em que estavam as equipas em panico, cerca de 30 pessoas a atender um fluxo invulgarmente grande de chamadas. Podia ter gritado ou andado pela sala a fazer pressão para se despacharem. Podia, mas não devia, e não fiz. Pus um a fazer a parte burocratica, sai de onde estava, sentei no meio da sala, pus um headset e comecei a atender as chamadas tambem. Passaram dois "lideres" a dizer que nao era preciso aquilo e que um lider nunca fazia aquilo. Factos? A media de tempo de chamadas desceu cerca de 30% em menos de 10 minutos, não tive de dizer nada a ninguem. Essa noite saimos cerca de 18 de nós, já depois da meia noite do trabalho e ninguem estava com pressa para ir para casa, estavam animados, a rir, a falar do dia, a falar de si mesmos. Isto é o que ficou comigo e a isto dei valor, assim como a chamada dum lider 3 graus hierarquicos acima de mim a agradecer o trabalho feito- não ao telefonema e os mails que recebi no dia a seguir pelos meus pares a dizer que eu tinha agido mal, quebrado protocolo e rebaixado a mim mesmo e à posição que ocupava.

Onde ha dignidade quando somos avaliados pela cor da pele, genero, orientação sexual, religiao, etc? Onde há inspiraçao a dignidade e estimulo ao desempenho se quem deve dar exemplo mais vulgarmente o esmaga e age com despotismo?

Para os mais duros de coração, lembraria que manter dignidade enquanto trabalhador mantem alguma paz de consciência e margem de manobra e que tratar um trabalhador com dignidade invariavelmente fara com que a pessoa verdadeiramente se revele- para bem ou não, se afira melhor o potencial e se atinja o mesmo em menos tempo, com menor artrito e muito mais proveito para todos envolvidos.

Passamos tantas ou mais horas no trabalho que em casa com os familiares, companheiros/as e amigos. Se no lugar onde passamos mais tempo somos todos dias tratados com injustiça e chamados de ineficazes e menos capazes (tantas vezes que entra na cabeça e afecta o coração)- o que acham que vamos trazer para casa? Que conversas vamos ter com nossos filhos? Que energia teremos para dar aos outros? Que espiritualidade alimentaremos? Que tempo encontraremos para visitar os pais, ajudar um filho com trabalhos de casa, perguntar a nossa cara metade pelo seu dia e realmente ouvir, quanto tenmpo ou disposição para aprendermos algo novo, fazermos algo que nos divirta e enriqueça? O tempo que estamos em casa nao vai variar muito, mas se no trabalho (seja nas entrevistas, na escola, em trabalho efectivo, etc) não entrarmos com medo ou raiva e nao sairmos com um suspiro de alivio profundo como quem saiu duma praia onde se afogava- garanto, as poucas horas do dia que ainda temos vão ser mais bem gastas, mais valorizadas, rendem mais porque não são sobrevividas ou suportadas, são vividas.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

ECONOMIA & HUMANISMO


Oikos Nomia, a Gestão/Regra da Casa. Uma amiga acaba agora a sua licenciatura nesta àrea. Conquanto com um curriculo impressionante, profundo e exigente , nele não se inclui Educação civica, Psicologia, Sociologia, História ( nunca em 3 anos lhe ensinaram que salário vem de sal, foi explicado o conceito de permuta e troca por generos mas não exemplificado e explicado como tal foi feito ao longo da história nem mesmo o porquê e como de se começar a fazer cunhagem de metais para moedas e mais tarde a criação de papel moeda- vulgo nota, etc), não inclui geopolitica, etc etc.

 Oikos ou Casa não é apenas tijolo e argamassa, não é aço, vidro, tinta e telha.  Casa é onde sós ou em conjunto encontramos segurança, propósito, apoio e crescimento.Os economistas e os "chefes" de hoje mesmo quando papagueiam códices de boas praticas, quando na ponta da língua nos citam Sun Tzu ou Osho ou a Biblia, raramente no seu dia a dia exercem auto-disciplina, compaixão, equidade, relativização face a prioridades empíricas. A economia actual é economicista, ou seja alimenta-se dos que a compoem mas serve-se a si mesma somente. Ora do que servem numeros, metodos de calculo, fórmulas complexas se não servirem uma utilidade e que o seja para os seus autores e contributores? Pode a cabeça existir sem o torso? Pode a mão dispensar o resto do corpo? Não há essencia ou proposito in-hilo numa filosofia, numa religião, num sistema politico ou numa religião- tanto quanto não há inerente valor ou razão de ser num copo de àgua pousado numa duna do deserto do Sahara a 4000km de qualquer humano.
Um livro é apenas um aglomerado de pasta de papel, linha, tinta e couro, um livro não o é até que alguém nele pegue e o leia- até ser lido um livro é apenas matéria inerte, lido é conhecimento  e emoção transmitido.Assim uma economia cega e auto-serviente é oca e inutil e só terá valor na directa proporcionalidade da sua utilidade para os que a pegam, alimentam e com ela crescem- ou não.

A axiologia, o estudo do valor intrinseco de algo- tendando ser o mais empirico  e o menos moralista possivel, o utilitarismo- a medida em que se avalia a practicalidade e utilidade de um objecto, principio ou pessoa para determinado fim (esperamos o bem comum) e a compaixão universal (o desejo sincero e empático pelo bem estar fisico, mental, emocional e espiritual de todas as criaturas vivas), são, na minha opinião, réguas pelas quais podemos medir, escalar e avaliar seja uma economia, um comportamento, uma religião, etc etc.

Entendo que nenhum humano conhecxe todas as partes da equação da vida, que nenhum de nós é sabedor do todo nem do porvir, podemos ainda assim na nossa limitada esfera de conhecimento tentar aferir o maximo numero possivel de factos, entender as implicações das escolhas, vislumbrar os desfechos possiveis e quando em duvida, aplicar o Principio da Navalha de Ocham, "Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenómeno, a mais simples é a melhor"
 Simples não é insulto nem sinonimo de simplorio, é de facil aplicabilidade e mais proveitoso e capaz meio de obter os resultados pretendidos.

Assim, a economia, enquanto sistema de gestão de uma Casa, duma familia, duma empresa, dum municipio, dum governo, só é útil  para o bem comum se e só se:

1) Axiologia: For baseada em valores empiricos, factos, numeros concretos (mesmo que apenas previstos mas com base em realidade não interpretativa mas pura- o que não é feito nas estatisticas de quase todas as empresas onde com uma pequenissima triangulação ou nova proporcionalidade não real se consegue manipular um relatorio completo de modo que se sirvam os propositos inicialmente estipulados mesmo que nao sejam realistas, factuais ou sequer justos). Infelizmente, é muito comum que quem paga é que decide se publica ou nao, se edita (que é como quem diz, sacode as equaçoes e reinterpreta) ou deixa como é. Esta má gestão é um des-serviço a boa economia e bons principios de quantificação e gestão e é pratica comum até no sector farmaceutico e alimentar- o que notamos quando empresas diferentes apresentam valores e conclusoes escandalosamente dispares sobre o mesmo objecto de estudo- e depois se conciliam quando so por acaso há uma aquisição desta ou doutra parte causando um conflito de interesses mas que porque por detras da cortina publica, ninguem nota e ninguem quer notar.

2)Utilitarismo. A economia e a gestão como um todo teem de ser de utilidade directa, comprovavel, quantificavel e qualificavel por todas as partes envolvidas. Uma empresa que permite atrasos constantes não é utilitaria- a produtividade fica comprometida, a coesão da equipa é afectada (os que cumprem versus os outros) e o proprio trabalhador que esta a chegar atrasado é prejudicado pois nao cresce, nao atinge o seu potencial e não o estamos a preparar para crescer dentro da empresa. Liderar seria falar com a pessoa, por exem,plo, sem fazer uma inquisição, sem juizos de valor, sem comentarios moralistas, simplesmente expor os factos, os numeros- minutos de atraso e trabalho calculado não feito, como isso esta a afectar o proprio e a equipa e oferecer disponibilidade para ajudar a ultrapassar esse percalço. Já pensaram que se calhar um colega atrasado é alguem que vai por os miudos na escola? Ou uma pessoa que luta em silencio contra uma doença crónica? Um colega nosso pode ter começado a chegar atrasado porque se sente invisivel, inutil e não valorizado . Ou pode, é um facto- mas por experiência é o menos comum- ter um ponto de melhoria comportamental e o atraso ser de falta de assertividade (o que volta a questao de que não se sente util nem de impacto no seu meio). Duma forma ou outra utilitarismo seria aplicar as tecnicas de gestão de emoções, gestão de tempo, gestão de recursos (porque temos de saber quanto produz cada um para avaliar quanto produzem todos e dai saber quanta pessoas são precisas para fazer o quê, quando e como), duma forma que seja factual, não moralista, de beneficio directo (imediato e meio/longo termo) para ambas as partes. Na economia podiamos aplicar este principio sendo sinceros, lógicos e realistas quando fazemos contas- saber  distinguir o que queremos do que precisamos, saber que embora querer e precisar sejam diferentes e tenham importancias diferentes , ambos devem ser satisfeitos. Um trabalhador sem tarefas é um desperdicio ao proprio e à empresa; um trabalhador sem valorização moral e sem dinheiro para se alimentar e viver com dignidade (nao falo luxo, falo um trabalhador nao ter de dizer ao filho para beber agua porque nao lhe pagam para dar leite) não vai aguentar muito tempo, não vai ter empatia com a equipa e liderança e tem maior probabilidade de ser um obstaculo a mudança e a decisões hierarquicas que nem sempre podem ser explicadas em detalhe. Um trabalhador por quem puxamos tanto quanto apoiamos (nem mais nem menos de nenhum lado) é alguém que sabemos nos vai dizer as coisas na face, que é mais permeavel a ser formado/ensinado em novos procedimentos, que mais facilmente tera empatia e confiança- porque existe reciprocidade e respeito a par de numeros e metas, o que implica mais produtividade, mais qualidade, menos artrito e um valioso apoio. Na minha opinião e experiencia em cerca de 16 anos de posições de liderança em contextos e empresas varias, não basta ter os numeros e formulas, há que aplicar e depois partilhar. Não basta eu saber porque é que temos de atender, por exemplo, 1200 chamadas por dia e todas em menos de 30 segundos, tenho de entender eu proprio o que se passa e o que esta em jogo e passa-lo a minha equipa, explicando o porque, as consequencias, as metas e depois dando a formaçao necessaria, o apoio moral/valorização, arregaçando as mangas e trabalhando  e exigindo mais de mim do que dos outros.


3) Compaixão. Não me refiro a caridadezinha arrogante, ao vicio de alguns meios de dar e ajudar só no sentido de manter as um fosso de diferenciação e um altar do ego. De igual modo não me refiro a fazer algo que até pode ser de verdadeira utilidade por outrem mas que disso fazemos propaganda- mais uma masturbação do ego. Compaixão e fazer porque deve ser feito, é ser e dar porque faz parte de nós. Porque, e so quando, entendemos que não estamos isolados mas interligados a toda a criatura vivente e que infligir conscientemente dor, mágoa, injustiça, desprezo a qualquer um é criar mais um elo na corrente de odio e maldade que ameaça a propria existencia da vida como um todo. Tem a Compaixão lugar na Economia? Deveria. Porque? Na medida em que trabalhamos com numeros que espelham o trabalho ou rendimento de pessoas, que teem vidas, dignidade propria, que connosco directamente ou não interagem e afectam.Tratar um trabalhador com dignidade, encontrar consenso possivel entre as necessidades da empresa e as do trabalhador ira sempre ser de benificio a ambos. Não se pode ter misericordia a mais por uma pessoa a tal ponto que se mutila uma empresa, mas também o reverso é verdade, não podemos valorizar tanto a empresa ou o status quo que desprezamos o ser humano ao nosso lado. Pagar uma formação a um trabalhador, ou um passe, não é um sacrificio para uma empresa- se o trabalhador aprende e aplica vai produzir mais e melhor e o que vai render vai ser mais do que o gastamos.De igual modo um governo que aplica um investimento na educação, tera uma população mais preparada e formada que poderá ocupar cargos mais bem pagos e/ou com uma produtividade mais acentuada e por consequencia nao so enriquecer culturalmente mas retribuir em impostos maiores- já para não falar na obrigação etica dum governo de por ao dispor da população o dinheiro que esta lhe entrega sobre impostos de modo a ser aplicada ao bem comum e crescimento fisico e mental do maior numero de pessoas. Dar seguido de receber mais- seja na economia, na liderança, nas relações humanas, não é um sacrificio é um investimento. A parte da Compaixão é ver as pessoas nos numeros e não so o reverso, e ver que um sistema só é bom quando é bom para o maior numero possivel de seus contribuintes, participantes e destinatários.

Assim que um economista, um gestor e um lider no sentido geral, devia ser menos um  Oikos Apolion um Destruidor da Casa e mais Oikos Kidemonas, um Guardião da Casa.

Citando Seneca, "Dum inter Homines sumus, Colamus Humanitatem", rudemente traduzido, "Já que estamos entre os homens/humanidade, sejamos Humanos"

segunda-feira, 31 de março de 2014

INDIVIDUALISMO & IDENTIDADE

     Numa sociedade elaborada existem varios factores a considerar ao analisar o ser humano  em si. Não estamos sós, ninguém o está verdadeiramente. Não em refiro á componente espiritual mas aos laços de intervivência, influencia mutua e interdependencia.
     Desde que nascemos somos programados de acordo com os parametros da sociedade em que estamos inseridos, da religião dominante, da politica em vigor, que em conjunto influenciam a maneira como os pais veem a si mesmos, como veem um ao outro, como veem os seus laços familiares e como os estabelecem, os detalhes de tal "contrato" de união,o trabalho que podem ou não ter e as contas que podem pagar e o que consideram -mais com base no dinheiro que nos sonhos individuais, o que é prioridade e o que é um luxo ou superfluo e por extremo o que é descartavel, postura e riqueza dos progenitores e por sequencia inevitavel a sua postura na vida e na criação de expectativas proprias (como resultado interpretativo do que absorvem do seu quotidiano e passadas a sua prole).
     Estas expectativas passadas ao bebe marcam de pronto o mesmo assim que teem percepçao de si mesmo e de seu contexto- o que alcança em poucos meses. Passado pouco tempo chega a imposição de valores de genero, de interpretação parental do que é uma infância (se uma fase bela, incomoda, apenas mais uma tarefa como o trabalho, uma fase antes de por o filho ou filha  a trabalhar e  contribuir para o bem comum da unidade familiar, etc), a percepção ou não de que o recem nascido tem in-hilo um caracter proprio e uma predisposição.
    Passado pouco tempo, atraves da interacção interparental que é - mesmo que não o notemos, atentamente testemunhada e interpretada como natural e modelo pelos olhos da criança, de palavras ditas, dos habitos culturais e sociais e a forma como os pais interagem com outros e permitem ou nao ao filho/a interagir com outros, dos nomes que se dão aos filhos, das creches em que os colocamos, a roupa que lhes é colocada -assim novamente  vincando a expectativa de genero (pela forma, textura, toque e cor da roupa) moldamos e impomos um modelo mais uma vez e mais profundamente de forma repetitiva.
     No aflorar da infancia, quando começam a conviver mais  com outras crianças, a forma como vão lidar com os outros, com os medos e sonhso proprios, com os medos e ambiçoes dos outros, tem mais a ver com o que os pais lhe passaram que tudo o mais. Passado pouco tempo isto tende a mudar, porque conseguimos comunicar mais rapida e eficientemente com quem de nossa faixa etaria e  porque é mais facil sentir e obter empatia por estes, começamos a querer ser aceites por uns e a querer nos afastar de outros. Principalmente por nos identificarmos mais ou menos com determinada pessoa por causa de seu comportamento exterior.   Seja porque nos sentimos frageis e buscamos quem é forte ou porque nos sentimos frageis mas culpados ao mesmo tempo e por isso mostramos uma força que nao temos- o inico das mascaras sociais que usaremos a vida toda, demonstrando força sobre outros como ilusao de que somos mestres de nossos medos. Entre os extremos do pendulo emocional vamos continuar mais uns anos e ainda assim repetidamente sujeitos aos estereotipos e modelos parentais e nesta fase a curiosidade acerca dos outros e dos pais dos outros e do pensar e  sentir dos outros. Hoje em dia esta fase é bombardeada com estimulos multisensoriais uma vez que as crianças na maioria das sociedades ocidentais - e um numero crescente nas economias emergentes orientais, são expostas a televisão e internet.
     Entramos na puberdade com esta engrenagem de influencias de varios lados agora aliados a uma revolução hormonal interna e por consequencia inevitavel e incontrolavel, uma revolução emocional. O desfecho da qual depende mais da importância e da interpretação que cada um faz do seu contexto socio-cultural (familia, amigos, colegas, internet, etc- todas as fontes de interacçao sao potenciais fontes ou espelhos de expectativas) e de expectativas percepcionadas (reais ou não) dos outros sobre ele/ela. Tem muito pouco a ver com a realidade em si, uma vez que ninguem é exposto a todas as formas de vivencia e entendendo que se cada factor isolado da sociedade (por exemplo habitos alimentares populares) é por si alvo de varias possiveis interpretações, quanto mais factores mais interpretaçoes, não so directas mas cruzadas.

     Tudo isto traduz-se em que o que nós somos aqui e agora ao ler isto, deve muito pouco a realidade. O nosso caracter, com os seus sonhos, receios, convicções, percepção de limites fisicos e emocionais, a nossa faceta mais benevola e o canto mais obscuro da nossa alma- é rastreavel na genealogia de nossas escolhas . Escolhas que tendemos a fazer na vasta maioria com base interpretativa e não realista; o instinto de sobrevivencia afecta as escolhas de uns mais que de outros. Quanto menos empaticas, sociaveis ou impulsivamente compassivas as pessoas mais podemos saber que as escolhas pivot da sua vida foram ditadas por sobrevivência (necessaria ou imaginada), derivada duma interpretação de perigo que sentiram (mais uma vez, real ou não) na infancia e na puberdade. Por outro lado temos no extremo outros comportamentos não saudaveis- exactamente por serem extremos. Falo dos submissos, dos que não so querem amar desmesurada e inconsequentemente (mesmo para seu detrimento) como sentem um imerecimento , uma noção baixa de seu valor e uma expectativa irrealista dos outros, da vida e das relações e afectos , não vendo eficiencia e reciprocidade como factor no sucesso geral duma vida mas mais sacrificio, sofrimento e comiseração (exactamente como o seu oposto que interpretou o mesmo da vida mas neste caso sem que o instinto de sobrevivência se tenha manifestado mais forte).

    Ou seja, a sociedade que temos ha varias decadas cria como uma fabrica de montagem gerações de pessoas que não são livres, não pensam nem sentem por si, não teem espaço para se descobrir, são compelidas a contribuir para a maquina de montagem seja atraves de reprodução fisica ou de pelo menos perpetuação de esterotipos; crescemos enquanto individuos e por sequencia sociedade, com  noções erroneas do que é o nosso limite, inculcados de que os sonhos são paras  dobrar a realidade percebida (sendo que nao a percebemos), é incutida ilusão de necessidade constante de bens, de mudança constante e de posse (o que interpretamos como modulo social e trazemos para nossas relaçoes afectivas e de volta para a progenie e tudo começa outra vez).

     Achamos adoravel uma menina querer ser bailarina aos 6 anos mas achamos que porque pode não ganhar muito dinheiro (a que a criança ainda nao da o valor exagerado irreal que os adultos dão) ou porque pode ter uma vida emocional menos segura (o que é um moralismo imposto), lenta mas seguramente - e maioritariamente de forma inconsciente, vamos desencorajando tal, dando relevancia a outras carreiras que deem a filha acesso a dinheiro, bens materiais, status social. Se parassemos para pensar, punhamos a miuda numa escola de dança ou davamos um dvd dum concerto de ballet ou "whatever". Mas porque fomos obrigados e programados a ver a vida com bens, posse, status, porque estamos em modo de sobrevivência, tendemos a passar isso a filha. Ao passar esses valores que não incluem nem propiciam real felicidade, nao são lógicos, não enriquecem o individuo nem a sociedade- indirectamente fazemos com que esta miuda chegue aos 14/16 anos e ela propria ache ridiculo querer ser bailarina e vai ver quem o quer ser como alguem mais fraco, distanciado da "realidade" e menos provavel de ser feliz ou serio contributor para o bem estar geral.

     Por mais que tal nos seja passado pelos pais, pela tv, pelos pares na escola, pelos dogmas ocos e materialistas impostos por chefes que acham que sao lideres (seja no trabalho, na igreja, clube, etc) de forma irreal e nao lógica , por mais que seja de facto importante cumprir papeis inalienaveis na sociedade, pagar contas e cumprir algumas das expectativas sociais, da proxima vez que um filho ou filha diga que quer ser bailarino, carpinteira, pintor, arqueologa, deixem-nos sonhar. Estimulemos e vivamos com responsabilidade, mas nao temos de ceder ao coma induzido de expectativas e sonhos emudecidos.

     Somos mais influenciaveis que gostariamos de admitir mas não temos de ser 100% permeaveis- nem estanques. É tão ilogico e pouco capaz de felicidade o que mimica os seus pares como o que os antagoniza e expulsa com nojo ou altivez.

     Com todas as obrigaçoes, medos, solidão, contas por pagar e "heranças" na nossa bagagem, a dado ponto temos de pousar a mochila, pesar o que temos, avaliar a quantidade certa de cepticismo e materiailsmo minimo necessario para ter os pes no chao. Depois, eu creio, devemos levantar e buscar os sonhos de infancia e os adquiridos mas que engavetamos nas prateleiras da impossibilidade.
Um ser sem um sonho no horizonte, sem metas ambiciosas, paixões, é de tão pouca felicidade e utilidade como o que nestes exagera e vive em constante masturbação do ego. Em tudo, meio termo; nesse espaço, nesse silencio- apos (não sem nem apesar, mas com o contexto e pares), arranjar um espaço proprio , uma voz propria, uma individualidade que ainda que não indespensavel nos torna unicos e por inerencia- quer outros vejam ou não, mais realizados, mais eficientes, mais impetuosos e mais propensos a ser e tornar outros, felizes.

     Sendo agora mais practico. Posso não conseguir agora aos 36 anos ser um arqueólogo (a primeira profissão de que me lembro ter querido em criança) ou um professor de filosofia como a dado ponto quis, mas isso não implica castrar toda a paixão por essas areas. Posso estudar, se não académicamente por alguma razão- seja temporal, monetaria ou ambas, posso ler, posso partilhar o que penso, ouvir atentamente e ruminar no que se passa a cada dia a minha volta, posso desligar um pouco da correria casa-trabalho e parar so para pensar. Também quis a dado ponto ser veterinário, é mais complicado neste momento, mas não me impediu de estudar livros, ser voluntário na União Zoofila, candidatar-me e conseguir trabalhar 1 ano e meio como assistente de veterinaria, adotar um cão e estar sempre a continuar a aprender com livros, medicos, com outros "donos" e com a Judy e os seus amigos de 4 patas.
     A nivel emocional, posso não entender algumas escolhas das pessoas, podem me magoar,posso sentir invisibilidade na ausencia de utilidade directa, mas posso tentar entende-las, fazer-me entender. Posso não cair na espiral de imediatismo e consumismo seja nos trabalhos, familia, intimidade; que tende a nao dar nenhuma satisfaçao concreta a medio ou longo prazo. Posso atrever-me a sonhar- mesmo que com algum cepticismo que tento não pese demais nas minhas escolhas, em encontrar alguém com quem tenha um companheirismo real, que seja fisica, mental, emocional e espiritualmente enriquecedor para ambos.
     Posso encontrar um lugar para a minha voz, para os meus sonhos, para a minha busca por conhecimento e por entendimento dos humanos e de Deus, para a minha capacidade e vontade de amar e ser amado. Posso tudo isto se e só se for capaz de ouvir a minha propria voz. 

     Quem se torna surdo de si mesmo, é mudo para o mundo e adormecido para a Vida.

domingo, 30 de março de 2014

DICAS NATURAIS (Humano, Animal, Casa)




     Como sempre, se teem alergia a qualquer destes oleos essenciais ou elementos usem luvas ou- no caso de produtos de aplicação directa na pessoa, não o usem. Quando em duvida em relação a alergias perguntem ao medico de familia e se seguro testem as substancias (nomeadamente o oleo essencial) em areas secas, nao feridas e nao mucosas. Não se usam oleos essenciais puros directamente na pele salvo rarissimas excepções- sempre diluir.

Elixir Bucal
Infusão de 500ml de Àgua com 25gramas de Hortelã Pimenta (Adstringente e ajuda com hálito)+ 6 pedaços Cravinho (fraco a moderado como antimicrobiano; eficiente anti-inflamatório)
*deixar ao lume 5minutos apos iniciar fervura
Retirar do Lume e deixar arrefecer juntar 20 gotas Oleo Essencial (essencial, não de queimador) de Canela (antifungico e antimicrobiano o que resulta em moderada desinfecção bocal e excelente preservante do elixir)
*Alerta:Porque há muitos mitos acerca de produtos naturais que alem de não terem base cientifica podem na realidade ser ineficientes ou prejudiciais, listo alguns exemplos:
1)Elixir com sal- NUNCA engolir e só itulizar se não houver nenhuma patologia cardiaca- uma grande dose de sal deixada na boca vai passar pelas mucosas e pode afectar pressão arterial e indirectamente o ritmo cardiaco. Resumo: Se tem hipertensão ou arritmia não use nunca elixir com sal.
2)Alcool é um irritante para a mucosa bocal pelo que seja um artigo caseiro ou das prateleiras de supermercado, devemos evitar exlixires bocais com alcool. Irrita as mucosas, afecta as papilas gustativas e destroi tanto más quanto boas bacterias e pode fomentar uma comunidade de bacterias nocivas resistentes.
3)Nunca usar Limão para limpar os dentes. É verdade que pode ajudar a branquear, mas a quantidade necessaria para tal é mais que suficiente para tirar o enamel dos dentes, deixando-os sem brilho natural e mais expostos a carie e deterioração.

Branqueador Natural (não usar mais que duas vezes por semana):
Verter agua oxigenada, a quantidade duma tampinha, cerca de 2 ml- eu uso a tampa da propria garrafa da agua oxigenada+1 colher de chá de Bicarbonato de Sódio. Esfregar os dentes com esta mistura.
Isto não substitui uma boa e multi-diária lavagem dos dentes.

Fungos cutâneo ( em fase primária, tipo Pitriase Versicolor)
Há loções adequadas, mas o shampoo Head and Shoulders- sim não é opção natural é só dica de poupança- tem o mesmo principio activo que o shampoo de terapeutica de farmácia (exemplo de Nizoral) e é muito mais barato. Para melhor efeito deve se usar, depois de tomar banho, como se fosse um creme hidratante e ir deitar com o gel no corpo. Atenção para lavar o pijama e lençois depois e muito cuidado para quem tem animais de estimação porque vao querer dar lambidelas- Em 2 a 4 noites de tratamento (seguidas de banho matinal em que se usa o Head and Shoulders novamente mas agora como gel de banho) os sintomas diminuem drasticamente. Se puder usar roupa de algodão e apanhar sol- por exemplo praia, é excelente pois sendo um fungo não gosta de luz ultra-violeta nem de oxigénio.

Fungos nos Pés
Alem do conselho obvio de lavar bem os pes quando se toma banho e secar logo, há outras dicas:
Lavar e exfoliar os pés com uma mistura de sal e vinagre de maçã (metade de cada) antes de deitar- secar bem os pés. Se possivel não usar calçado nenhum em casa- nem mesmo meias, pelo menos nesta fase
Deixar sapatos num local arejado e  se possivel solarengo. De manhã- depois de pes bem lavados e secos, aplicar directamente umas10 gotas de oleo essencial de Lavanda na palma da mão e esfregar nos pés.

ATENÇÃO com alergias, quando em duvida aplicar com uma bola de algodão . Não usar oleos de queimador, mas essenciais e não negligenciar nem espaço entre os dedos dos pes nem as cuticulas dos mesmos.

Cera de Cabelo
Raspar em flocos o equivalente a 3 colheres de sopa de Cera de abelha, derreter com cerca de 30/40ml de Oleo de Amendoas doces (quanto mais oleo mais suave o creme). Derreter em banho maria e tirar assim que os "flocos" de cera se diluirem no oleo. Refrigerar para solidificar e usar.
Pode-se adicionar- logo depois de tirar do lume pois solidifica muito rapido, até 20 gotas e oleo essencial de Alfazema ou Calendula. ACalendula vai ter um cheiro mais suave , a Lavanda dá um toque mais floral e feminino.

Desinfectante de Mãos personalizado e Hidratante(do que usamos para "lavar" mãos sem àgua):
50ml Desinfectante de mãos sem cheiro (ha a venda em dispensadores grandes no supermercado)+10 gotas de oleo essencial de alfazema (anti-inflamatorio e hidratante)+10 gotas de oleo essencial de eucalipto (refrescante e anti microbiano)
Para um aroma mais neutro ou masculino substituir por 10 gotas de oleo essencial de gengibre (antimicrobiano) e 10 gotas de oleo essencial de calendula (hidratante e regenerador)
Podem testar com 10 gotas de oleo essencial de canela+ 10 gotas e oleo essencial de eucalipto- eu gosto mas há quem diga que fico com as maos a cheirar a "Gold Strike"; fica o aviso :)

Pele seca e escaras nas orelhas dos Cães e Gatos (não em feridas abertas mas quando esta seco seja pelo calor ou porque em recuperaçao duma otite- em que a pele fica seca e escarada de eles se coçarem; e só na orelha não no ouvido interno em si):
Oleo de amendoas doces aplicar com bola de algodão ou com os dedos (pode-se colocar 20 a 30 gotas de Oleo de Alfazema por cada 100ml de oleo de amendoas doces, pois é anti-microbiano- mas se é so para rehidratar o oleo de amendoas serve perfeitamente)

Bebida Isotonica Básica Caseira:
500Ml de agua para infusão de Hortelã ou Limão (aqui não tanto pela terapeutica mas pelo sabor)
Arrefecer e colocar 1 colher de sobremesa de mel e meia colher de chá de sal.


Limpar paredes de sujidade e cheiros
1 litro de lixivia para 1 litros de água- aplicar directamente na parede. Passar depois  com água morna na superficie.
Porque , felizmente, nem todas as paredes são brancas, há outras opções - e que servem nas paredes brancas tambem. Lavar a parede directamente com vinagre de maçã , puro, se de todo se diluir é no maximo com 1/2 litro de água.
Novamente, limpar depois com água morna.

NOTA: Tanto a lixivia pura como o vinagre de maçã nao diluido são uteis para tirar manchas de bolor seja nas paredes dum WC ou dos azulejos.


Tirar manchas de urina de animal doméstico dum chão de madeira:
Se for imediatamente, basta apanhar com um pano (se for abundante verter pó de talco primeiro) e lavar com Vinagre de maçã puro, deixar secar, passar um pano embebido em lixivia pura, deixa secar, passa por àgua.
Quanto mais tempo ficar pior é e e mais vezes se repete o processo. Em casos mais complicados, pode ser necessário aplicar lixivia directamente no chão (não deixar o animal domestico ir proximo ou vai lá urinar outra vez- alem de não ser bom para inalar nem lamber, claro). Após o que- caso persista, em ultimo caso, esfgrega-se o chão com lixivia pura e usando um esfregão de palha de aço (pode ser daqueles baratpos que se usavam para "arear" panelas)
Porque isto vai inevitavelmente descolorar a madeira quanto mais tiver de ser repetido o processo, pode depois ser necessario usar a palha de aço (mas ai so com agua) no resto do chão todo ou então vai notar-se a diferença. O ideal é apanhar logo, mas fica aqui a ideia.
Ha de facto detergentes com enzimas especificos mas caritos. Para evitar estar a trocar o cheiro da urina por cheiro a lixivia, aconselho a lavar o chão de madeira com liquido lava-madeiras puro 3 a quatro vezes por dia por 2 dias e so depois de isso voltar as rotinas normais de limpeza desse espaço.

Tirar mancha de sangue de roupa (eu espero que não hajam por ai criminosos a procura de maneiras de ocultar provas LOL mas a verdade é que esta dica já me foi util quando me cortei e muito util quando a trabalhar em veterinaria e havia algum percalço)
Àgua oxigenada- nada mais, só agua oxigenada pura em cima do tecido e sai logo.

Retirar ou limpar excessos de cola (também pode ser usado para tirar rótulos de frascos que queremos reaproveitar e que não sairam com agua a ferver- ou de involucros de plastico que não convem colocar em agua a ferver ou se deformam)
Qualquer óleo, sendo que o mais barato e rapido que encontrei foi o oleo de bebé, é um simples derivado
de parafina. Embeber uma bola de algodao- ou uma meia ou trapo velho, com bastante oleo e aplicar
abundatemente directamente no rotulo ou local ,e sfregar com paciencia ate sair tudo. É o metodo menos corrosivo que utilizei e é eficiente.

Limpar Manchas de sujidade e calcario na louça de casa de banho (banheira, lavatorio, etc):
Passar água na superficie e depois verter detergente de roupa (pode ser do mais barato), voltar dai a 15
minutos, passar esponja. Mais barato e menos nocivo ao ambiente que produtos causticos.

sábado, 22 de março de 2014

NATUREZA: DONOS OU MORDOMOS?

O dicionário define "mordomia" como capacidade de administração- seja de uma casa, de uma familia, dum grupo, causa ou entidade.Escolho esta palavra porque creio ser a mais correcta parao contexto. 

Nos textos base das religiões abraâmicas (israelismo/judaismo, cristianismo e islamismo), assim como nos Vedas, no Epico de Gilgamesh, nos escritos egípcios, no Popol Vuh dos maias, na tradição oral da maioria da Àfrica sub-saariana, dos nativos americanos, dos aborígenes da Austrália à miríade de ilhas dos povos do Pacífico- todos falam da Criação da Vida com o mesmo assombro, maravilha, beleza e poder imenso. Uns realçam o caos absoluto a comparar com a ordem que viria, outros apresentam a forma de geração espontanea ou creacionismo base, outros uma forma não convencional de creacionismo assumindo que as forças divinas não fizeram aparecer algo do nada mas - como a terceira palavra de Gênesis em aramaico, berosheit, indica, que o que estava separado e sem propósito foi organizado, reordenado e outorgado destino, propósito e força motora ou cinética inerente. Uns argumentam sobre a inteligência ou alma do planeta em si enquanto entidade viva independente dos que a populam, uns indagam-se sobre até onde vai a consciencia das plantas e animais sobre a sua propria existencia e se isso implicaria que todas as criaturas vivas possuem em si nao apenas centelha de vida mas alma.

De onde quer que sejamos, qualquer que seja a nossa crença,  para qualquer ponto que olhemos da historia, do tempo ou espaço nesta pequena esfera a que chamamos de Terra, de casa, nisto concordamos, é, por agora, a única morada comum que temos. Uns mais que outros poderão debatar o papel que temos enquanto humanos face a tamanho  ecossistema, esta torrente de força vital que permite que haja vida desde o pico das montanhas ao profundo mar, nas temperaturas mais gélidas às fumarolas dos vulcões submarinos, nas planicies solarengas aos subterrâneos selados que não veem a luz do dia há milhares de anos.

Que papel tem o Humano ante tal? Na teologia abraâmica, mais que em qualquer outra, há uma notória presunção de posse sobranceira, de que tudo o que nos rodeia nos foi dado para dominar, nomear, apropriar e fazer como nos aprouvem. Creio que não é esta noção independente do facto de se trararem de religiões patriarcais, todas sem excepção com noções claras de territorialidade, impeto bélico e uma necessidade visceral de buscar e persuadir todos a serem aglutinados por sua doutrina sob pena de serem vistos como párias, imerecedores de graça divina e por consequencia ultima, anulados da Criação.
Isto chocou deveras os nativos das Américas ao ver o despeito e materialismo com que a terra e suas criaturas eram vistas e tratadas pelos colonos. O mesmo com as tribos africanas, os aborigenes australianos, etc.
Mas esta presunção de posse, de antropo-centrismo deveria chocar os proprios povos judaicos, cristãos e islamitas.  terra, os mares e rios, as "bestas do campo", os peixes e varias criaturas do mar, as florestas, ervas, flores e toda a forma mineral, vegetal e animal- seguindo a lógica de Gênesis, precede-nos. Na verdade, consultando a historia vemos que a noção de os humanos virem depois de tudo o mais da Criação é de comum interpretação a volta do globo inteiro com excepções infimas. 
Porque então seriamos os senhores e mestres do que nos precede?
Bem, em Gênesis  (escrito por Moisés- relembro que de acordo com crença os 5 primeiros livros são da autoria de Moisés depois deste ter sido educado nos preceitos e religião do Egipto e de ter saido do mesmo para o deserto por onde vagueou por 40 anos) no primeiro capitulo, versiculo 28 está escrita a ordem do humano ser frutifero, multipilicar-se, encher a terra e sobre ela ter dominio e subjugar todas as criaturas que nela se encontram.

Serei só eu a ter um problema com as palavras dominar e subjugar todas as criaturas? Pouco depois é dado o conselho a Eva- e através dela a todas as mulheres que viessem à Terra, de sujeitar-se ao homem, servi-lo, inclinar sobre ele todos os seus desejos e ser pelo homem dominada.

Ou seja, os 3 primeiros capitulos dão ao homem, ao humano masculino, a autorização e de facto a ordem de dominar, nomear, subjugar e dispor como quiser das mulheres, da terra, mar e ares e de tudo o que os povoa. 
Não posso concordar com isto e não entendo isto como um preceito digno nem oriundo de entidades iluminadas ou divinas. Eu, na minha insignificância, ignorância e inconsequenciabilidade atrevo-me a ver nestas palavras - sem equivalente em qualquer outra cultura não abraâmica, outro significado. Não dominância, não subjugação, mas mordomia e colaboração; não sobre mas com, nao acima mas olhos nos olhos- seja com a mulher ou com a Criação como um todo.

Acredito na existência duma entidade- seja um, uma, muitos- inteligente, eficiente, com lógica suficiente para agir com frieza quando o bem maior se impõe, compassivo que baste para ver, entender e discernir as intenções das acções. Uma entidade, chamemos-lhe Deus por mera simplificação, que tenha ou não interferido no processo evolutivo do Cosmos e em particular do planeta Terra, a querer intervir na história dos humanos, a querer buscar seu avanço , não poderia por pura lógica assumi-los como superiores e ignorar que fisicamente somos inferiores e menos bem equipados para adversidades climatericas, predatorias e ate epidemológicas que uma mera bacteria.

O que nos distingue? A consciencia de nossa propria existencia, a  capacidade de argumentar e estruturar pensamentos complexos e precepcionar conceitos abastractos como a existencia, o tempo, espaço, etc? Não sera concerteza inteligência ou capacidade de fazer instrumentos por si- os chimpanzés batem os cocos na pedra para os abrir e comer, as aguias largam as tartarugas de grande altura para que ao cair rache a carapaça e assim possam comer a carne  la dentro, as plantas crescem com inclinação para o sol nascente, o musgo cresce a norte na europa porque aqui o vento frio e propicio a multiplicaçao dos esporos vem precisamente de norte-nordeste- tudo isto é inteligência, instrumentalização e adaptação.

Seja o que for que nos distingue no olhar de Deus- se algo há de todo, seria, para mim, algo a ver com um equilibrio delicado de emoções e intelecto. Ora a que emoções apelamos ao pregar de dominar e subjugar metade da raça humana inteira (as mulheres) e toda a criatura vivente sob um grupo de seres que calharam de nascer com cromossomas XY em vez de XX?
A que intelecto e logica Deus estaria a apelar e evocar ao propor uma estrutura hierarquica que não é sustentavel para a perpetuidade do proprio homem, uma vez que se levada a ultimas consequencias o exterminio de especies vegetais e animais- que nao precisa ser sequer de 50%, implica a deprivação de meios de sobrevivência do protegido?

Não, não creio que Deus tenha qualquer intuito nem de exercer dominio- porque senão não teriamos livre arbitrio, nem subjugação- ou seriamos todos compelidos a adoração dum tirano (que é precisa e tristemente o que tantos veneram, ora com olho numa recompensa celestial ora com medo dum castigo e vazio eterno).

Despido de dogmas, vazio de presunções proféticas, sem graça especial ou inteligência reconhecivel, eu no nada que sou olho para as estrelas, para o mar, para uma flor, para os olhos de um cão, para o espelho... e sinto de forma quase visceral que há uma ordem e um caos, uma rutura e uma reconstrução, constante, auto alimentada, equilibrada, da qual posso ser ou apenas uma pequena parte ou- na hora mais nobre e tentativa mais digna da minha vida, ser um mordomo, um guardião. Não como administrador capataz, mas como guardião, amigo, protector não sendo eu superior ou mais forte mas ainda assim determinado e, acredito, mandatado, a ser de utilidade á continuidade da existencia das especies que compoem toda esta maravilhosa Criação.

Poucos capitulos adentro ainda no Gênesis, há o episodio conhecido de Caim e Abel. Depois do incidente infeliz, Moisés continua a parábola mistica colocando Deus a falar com Caim e lhe perguntando "Onde esta o teu irmão", ao que Caim responde "Serei eu o guardador de meu irmão?"
Por fábulas, parábolas, histórias, mitos, por episodeos tantos cuja acuidade historica não é tao relevante quanto o principio que tentam ensinar- vemos varias vezes duma ou outra forma esta indagação: Seremos os guardadores de nossos irmãos? E quem são esses irmãos?

Para mim, na pequena esfera de conhecimento que alcanço neste vaso de barro quebradiço, entalado entre paradoxos hormonais e existenciais que não entendo nem muito menos domino, toda a forma viva é extensão e manifestação de Deus e de todas sou , somos, guardadores.Se não guardamos, amamos e preservamos o que luminoso, belo e inocente há ante os nossos olhos aqui e agora, com que veleidade dizemos acreditar e amar a uma Divindade cuja "carne" nao conhecemos e cuja mente, coração e designios são tão profundos, vastos e inefavelmente incompreensiveis para a nossa limitada pessoa? Quem não vê Deus na criatura, não viu Deus de todo; quem não amou o semelhante que vê e toca e cheira, como se atreve a dizer que ama o que empiricamente não pode comprovar?

Dominando e subjugando estaremos apenas assinando e carimbando o passaporte da nossa propria extinção, e desonra, enquanto individuos e enquanto espécie.
A Terra e a Criaçao como um todo, incluindo nossos pares humanos, não são posse a dominar , nem suas mentes territorio a ocupar; não são nossos os rios que neles nem habitamos para que os poluamos ate que não mais saciem a nossa propria sede sequer; não é nosso o céu em que so conseguimos voar por engenhos mecanicos para que possamos impunemente o saturar com infectas nuvens de gases até que asfixiemos.

Por principio lógico, por compaixão co-existencialista, por sobrevivência propria e do todo, por veneração ou pelo que seja, espero que percamos rapidamente as noçoes antropo centristas que teem dominado a nossa cultura nos ultimos 3000 anos e que nos estão a levar a um ponto de não retorno.
Sejamos o jardineiro e guardador da existencia, crescimento, equilibrio e felicidade de nós mesmos, de nossos "irmãos e irmãs" e de toda a coisa e criatura criada- ou  seremos despedidos todos de toda e qualquer tarefa porque o mundo ira a bancarrota existencial, falirá e ruinas, pó e ecos serão tudo o que restará da espécie que podia ser tanto mas escolheu não ser mais.

O PESO DA SAUDADE

Esta é uma palavra que alegadamente so existe em português, ainda que seja sentida por qualquer um em qualquer ponto do mundo ou do tempo.È uma angustia doce, um recordar de algo bom mas com nostalgia; às vezes é lembrar de coisas menos boas mas que de alguma forma nos tornaram mais fortes. É lembrar quem ja nao esta aqui, onde nós já não estamos, o que sentimos e perdemos.

No dia 23 de Março faria anos o meu ex-companheiro, dia 26 faria anos a minha Mãe, dia 27 faria anos um amigo; os três já faleceram e ainda que acredite em alguma forma de existência continuada após a morte, não deixo de ter um lado céptico e  nostálgico. Nesta semana, Saudade é um termo que conheço bem.

Pessoalmente, ainda que não me impeça de viver, as minhas saudades pesam-me  ainda estou a aprender aos 36 anos a viver com perda. O tempo não cura, mas ajuda, especialmente a por as coisas nos seus lugares, a dar a prioridade certa aos momentos, pessoas, locais e sentimentos. Especialmente quando sozinho ou quando magoado, é dificil evitar que essa "caixa de memórias" se abra e me invada de Saudade; uns dias é uma brisa, há dias em que é como uma onda gigante que me assola, tira-me o ar e deixa-me a mente em claro como se de repente todos os pensamentos, sons e sensações se transformassem em sombras e frio.

Tenho saudades da minha Mãe que perdi aos 13 anos. Tenho saudades do meu pai que depois de me ter dado uma infância esmagada pelo seu comportamento emocional e  fisicamente violento, deixou de beber, pos a sua mente e coração em ordem , soube dar uma volta de 180º e quando começou a ser um verdadeiro Pai, quando eu comecei a entender que as pessoas podem mudar e teem direito a uma segunda oportunidade, faleceu depois duma agonizante luta contra o cancro. Tenho saudades da igreja e de me sentir util e aceite, de sentir que era parte de algo maior que eu mesmo, de sentir que um parente celestial me ama e acredita no meu potencial.  Tenho saudades da minha missão de dois anos onde senti e vi que pude ajudar pessoas a sentirem-se melhor consigo mesmas, com os outros e com Deus.  Tenho saudades de me apaixonar. Tenho saudades da rotina louca de trabalho de quando trabalhava 8 horas por dia na recepção dum hotel pequeno, fazia 2 part-time em restaurantes, e ainda tinha energia e alegria para sair, ir ao cimena, beber um copo, ouvir, falar, etc. Tenho saudades de não ter de me preocupar em manter as refeições sob um tecto máximo de 1 a 1.5€ por dia para aguentar mais uns tempos sem ter de recorrer a ajudas que ainda acho são para quem precisa mais do que eu. Tenho saudades de quando na igreja ou no liceu, sem telemoveis ou internet, havia pessoas a vir ter comigo e perguntar como estou, a empurrar-me para fora de casa, a ajudar-me a sentir util e não invisivel. Tenho saudades de mim mesmo, da garra, atrevo a dizer da coragem que tive em sair da igreja e de casa quando tinha esgotado todas as hipoteses de sanar ideologia e ética conflituante, quando dei o meu "grito de Ipiranga" e declarei para mim mesmo que merecia ser livre, merecia não ter de ser abusado emocional e verbalmente, que merecia amar sem culpa e ver todos os seres humanos como válidos filhos de Deus sem noções preconcebidas baseadas em algo tão inimputavel e inocuo como genero, raça, etnia ou religião- em vez de merito proprio por escolhas, atitudes e caracter.

Quando vejo as coisas desta forma é como se pusesse os oculos; a realidade não mudou apenas a vejo mais focada, como é. Olho para o meu presente, sem Mãe nem Pai (partiram cedo mas quando estavam bem, na crista da onde de sua integridade e dignidade), sem companheiro, sem igreja, sem trabalho (sem o aprendizado e camaradagem mas de cabeça erguida de ter sempre feito o meu melhor, de ter excedido expectativas proprias e de quem me liderava e de ter saido não por medo, fraqueza em lidar com stress ou orgulho mas por honra e lealdade a empresa e meus pares).

Sempre vai acontecer, no meio de tantas escolhas que temos de fazer a cada dia, fazermos escolhas menos boas, outras movidas por impetos ou sentimentos menos altruistas- somos homanos faliveis. Sempre vamos ter um pouco de saudade por aquilo que deixamos, o que nos foi tirado, os que jã não estao aqui, os que estão por cá mas escolhem agora não estar "aqui". Mas é a minha opinião, experiência e esperança de que quando tentamos fazer as nossas escolhas com o maximo possivel de dignidade, respeito pela integridade propria, buscando o menos mal possivel na ausencia dum claro bem maior, acreditando (e sim vou citar Star trek) que "the needs of the many outweigh the needs of the few... or the one", as coisas teem um jeito de se encaixar. A saudade ainda lá está, mas não lutamos com ela. O mesmo passado que ficou com as coisas e a gente e os lugares, é o mesmo que nos trouxe ao "Aqui e Agora". 

E neste momento e lugar, estou sentado sozinho a secretaria com a cadela encostada aos meus pés a dormir, depois de mandar tantas sms's a "amigos", visitar familia que resta para quem não deixei de ser apenas um miudo e que em 14 anos nunca me visitaram nem telefonaram uma unica vez nem mesmo para Natal ou aniversario em que sou eu que tenho de ir ter com eles, depois de tanta gente que visitei em casa, no hospital, em funerais, em depressões, em tentativas de suicidio, em momentos de ressaca  e tentativa de abandono de varias substancias, depois de conhecer homens para quem não era gay suficiente ou outros para quem não sou "butch" e bruto que chegue, depois de 5 anos numa empresa a trabalhar lado a lado e a conhecer de perto mais de 50 pessoas.

Dói? Claro que dói; mas são dores de crescimento. Tenho saudades sim mas é maioritariamente uma ilusão, saudades do que parecia ser e não é- e isto é algo que a Saudade faz tambem, exagera o que foi de modo que o passado nos parece tao melhor que o presente.Mas não me arrependo, ser de utilidade, ser sensivel, ter ambiçoes, buscar mesmo quando não buscado, apoiar os que para quem ate precisarem sou invisivel, insistir em tentar unir a minha familia que gosto e respeito e que sei são apenas frios nada mais, de tentar apoiar quem de perto lida com a morte, perturbações psiquicas ou crises existenciais- mesmo que por dentro sinta que estou a dar de um saco vazio. 

Não sou uma boa pessoa, apenas  estou "programado" assim, é a unica forma de ser que concebo. Não o faço conscientemente, é-me tão espontaneo, inconsciente e isento de mérito como o facto de pedir por favor a minha cadela quando quero passar, dizer obrigado quando me da beijinhos de manha ou pedir-lhe desculpa quando noutro dia estiquei as pernas na cama sem saber que ela estava no fim da cama e caiu.

Penso que o que queria passar é que todos temos Saudade, que essa nostalgia pode ser uma brisa ou um tsunami e que a intensidade da mesma tem mais a ver com a certeza e paz de consciencia que temos com as nossas escolhas e muito pouco a ver com o passado "per se" e a nossa perpsectiva do mesmo que será possivelmente deturpada por expectativas e sentimentos não correspondidos no presente.
Neste sentido, depois dum flashback emotivo, ponho a Saudade onde ela deve estar, não na frente da testa nem num canto escuro de negaçao ou deturpaçao de factos, mas na prateleira devida, algures entre a minha mente e o meu coração.

sexta-feira, 21 de março de 2014

AS 4 FACES DO AMOR

Ha quatro formas básicas do Amor ou afecto profundo: Pathos, Eros, Filia e Agape.

PATHOS
Pathos é muito sucintamente o amor pelos nossos pares com que nos identificamos e a quem auxiliamos e de quem buscamos auxilio, em outras palavras é Amizade.
Pathos, ou Amizade, é mais que uma area de intersecçao de interesses e valores- isso nós temos num clube desportivo, numa igreja, no trabalho. Não é por isso que temos uma amizade com quem aí nos rodeia. É também importante distinguir o ter e o ser amigo. Dentro do ser, distinguir se eu sou amigo, o outro é meu amigo ou somos entre nós amigos.

O "ter" um amigo é um reflexo da necessidade de conquista, de posse e dominio. Pressupoe uma serie de expectativas unidireccionadas de outra pessoa para nós. É o outro que nos ouve, é o outro que "tem" que nos apoiar, nós somos a parte forte, o outro é a parte que vemos como fraca mas ao mesmo tempo como muleta. Não ha dignidade nisto e isto não é Pathos. Ninguem possui ninguem, qualquer pensamento em contrario é uma ilusão- por mais que materializada atraves de comportamentos abusivos de uma relação salvador-vitima.

O "ser" amigo de alguém não é suficiente. É um começo, o melhor possivel pois parte de decisão propria e não de estimulo externo. Novamente é unidireccional; pode revelar uma inconsciente e desproporcionada necessidade de ser de utilidade mesmo que com isso percamos a nossa identidade propria para ser aceites. Podemos ainda assim, ser amigos de quem não escolhe ser nosso amigo. Esta é uma atitude nobre mas só se disso não depender a nossa estima nem se com isso não estamos a inconscientemente satisfazer o ego e uma noção distorcida de compaixão- que na realidade é arrogância mascarada de humildade. Escolher tentar ser amigo, estender o ramo de oliveira por inerência a todas as criaturas é- quando movido por sentimento sincero de conhecer e ajudar, dos mais nobres sentimentos que teremos na vida inteira- um que nos trará, mesmo quando não correspondidos, uma sensação de serenidade e leveza que só quem o sente entende.

Pathos é um sentimento que cresce quanto  mais simbiotico for; não pode ser parasitario ou um crescerá em arrogancia e outro em subserviência e ambos perderão noçao de propria real identidade e valor. Pathos, ou a Amizade, é como uma flor,  mas não qualquer uma. Amizade é como a flor dum cacto que precisa de pouca água para subsistir mas precisa muito sol, estica-se, aumenta e cresce para captar o maximo, retem o essencial, expele o nocivo e na maior das secas, no calor torrido do dia e na gelida noite, não antes mas só depois de muito escaldão e resfriado desabrocha numa humilde, adoçicada e perene flor.

É abraçar com tanta força como se dá um empurrão ou puxão de orelhas quando precisamos avisar ou ser avisados de que o caminho escolhido não é o mais eficiente para chegar as metas comuns de felicidade- sem com isso cada um deixar de vista a sua individualidade. É reciproca, é isenta de status, não carece recompensa mas dispensa-a sem estimulo, não busca louvor mas fornece motivação, não fica calado a ver o outro cair na escuridão mas também não brilha sozinho que nem holofote, antes poe as maos a volta da chama do amigo para que nao se apague mas que tenha cada um a sua ptropria luz, sem de nada depender, de si mesmo ficando convicto e forte. Como vemos e alimentamos o nosso lado emocional e espiritual, assim vemos e tratamos os que nos rodeiam e temos por "amigos". Um "mau amigo" é apenas alguem que por alguma razão não se ama e receia que se outro olhar para a sua alma não veja mais que o proprio vê em si, indignidade, fragilidade e medo. Antipatia, frieza, inimizade, não diz quase nada sobre o alvo como nos diz sobre a origem. Assim tambem a verdadeira Amizade, vê como quer ser vista, trata como quer ser tratada.
EROS
EROS é a atracção fisica, sensual, intima. É uma parte que ainda que não essencial ao intelecto, tem uma parte importante nas emoções de todos nós. Eros é também o amor proprio pelo corpo que temos, aceitar as nossas paixões, instintos, corpo, as atracçoes fisicas que despertam em nós a libido e com isso uma torrente de hormonas. Eros é a quimica que nos impele a reproduzir, a usar o corpo em actos intimos de demonstração de afecto e de comunicação de sensações muito mais profundas do que as palavras conseguem exprimir. Porque falamos de hormonas, há que entender que tem - como em tudo, de haver um equilibrio saudavel. Um individuo faz bem em explorar- a si mesmo, a sexualidade, a sexualidade partilhada, mas sem cair no erro comum de ver nisso a unica ou mais segura forma de demonstração de afectos. A sensualidade não é incorrecta ou má, é a relevância que lhe damos que pode revelar ou causar disturbios emocionais. Quem castra a propria sensualidade, quem entra em negaçao a uma parte tão intrinseca da sua natureza fisica, corre serios riscos de baralhar todo o sistema hormonal e com ele o lado emocional. A rejeiçao de si mesmo, o nojo pelo corpo- seu ou dos outros, o pudor excessivo, podem derivar duma noção de imerecimento, de impeto submisso, de medo de fracassar em agradar. Pode também revelar falta de conforto em se entregar porque entregar o corpo é expor a alma ou psike- para uns mais que para outros.
Ha tambem o risco oposto, o de banalizar. Podemos encontrar na sensualidade uma facil moeda de troca de afectos que na realidade é apenas uma rapida e não comprometedora maneira de sentir que somos aceites sem nos termos exposto emocionalmente.
Reparem, não sou nenhum pudico virgem. Sensualidade e sexo são parte duma vida saudavel, não digo que se faça mais ou menos, apenas acho que não é saudavel nem deixar de fazer só por medos ou vergonhas nem o fazer como se fosse uma  maneira rapida, segura e inconsequente de buscar validação (seja de alguem em particular ou de um grupo), auto-estima ou como se acreditassemos que alegria momentanea é igual a felicidade. Adrenalina e Serotonina fazem bem, mas não em picos abruptos do nada para o tudo porque a queda é rapida, dura e nesse estado de desequilibrio raramente temos o bom senso de nos rodear de quem nos pode validar e apoiar verdadeiramente.
Seja a viver celibato, a "fazer amor", a ter um encontro fortuito, a auto-exploração, que seja feito sem pressoes- de negação ou de exagero, que seja porque se quer verdadeiramente, estando emocionalmente estavel e bem consigo mesmo. Assim, garanto, será uma experiência- mesmo o celibato, infinitamente mais recompensadora. Porquê? Porque o fizemos não porque um sacerdote, amigo, momento de duvida sobre nosso valor proprio ou imagem, ou companheira/o nos impeliu, mas porque tivemos determinação propria, segurança e conforto por e em nos mesmos, respeitando sentimentos, liberdades e esperanças próprias e dos outros.

FILIA
Filiae seria o amor fraterno, filial, os laços de sangue. Se por um lado se diz que o sangue é mais espesso que a água, também se diz que não escolhemos a familia que temos. Coloquemos de lado o impacto social que tem a desagregação crescente da familia em suas varias facetas e "apresentações" e pondo de parte a possibiildade de pre-destinação ou karma.
Facto é que, escolhendo ou não, temos laços de sangue. Concordo plenamente em principios basicos de respeito e deferência. Por outro lado não concordo em subserviencia ou dominância. Ninguém tem um curso para ser pai ou mãe; é uma tarefa herculea e ninguem pode preparar outro para isso porque é algo tão profundo, pessoal e intimo que não sabemos ate o fazermos e aprendemos fazendo. Isto demora aos filhos a entender, ate que sejam pais ou que emocionalmente cresçam o suficiente em empatia para se por no lugar dos seus parentes.
Dito isto, não ha desculpa possivel para alguem abusar duma posição geneticamente hierarquica para fazer experiencias emocionais, para fazer jogos de poder, para fazer uma catarse em cima de seus filhos ou de tentar molda-los de forma a que vivam o sonho de seus pais e não os seus proprios. Pais e filhos são, apesar do sangue que os une, pessoas diferentes. Parte duma estrutura social sim, mas não a mesma carne e espirito. Moldar os filhos, castra-los de capacidade de livre arbitrio, proteger de tudo, impor neles o futuro que quisemos para nos mesmos, é uma luta vã, inglória e injusta. O melhor que podemos fazer enquanto pais e filhos e honrar a individualidade de cada um, imitar o que de melhor o outro tem (e tanto os filhos ensinam aos pais), ensinar as consequencias das escolhas sem as mesmas condicionar tanto que se tornem uma tentaçao tão irresistivel como o fogo para a traça e apoiar, pais aos filhos e filhos aos pais, em todas as ambições, actos e palavras justas.
O modo como vemos a nos mesmos vai passar para nossos filhos e passa destes para os pais. Um pai abusador tem uma tremenda possibilidade de gerar um filho que oscilara entre a fragilidade (que seu pai escondia numa mascara de força tirana) e uma mimica dessa força virtual, mas fragil por dentro. Uma mãe ou pai que vinca as expectativas de genero abusivamente nos seus filhos (azul para rapaz, rosa rapariga, rapazes brincam na rua e raparigas em casa com a mae, rapazes teem de valorizar o fisico e competitividade e as meninas teem de aprimorar o lado emocional e intelectual), vai propiciar filhos que não sabem o que esperar ou procurar numa companheira ou que por outro lado procurem uma substituta da mãe, semelhante coisa as filhas em relação a estranheza que terao para entender a contraparte masculina e a por defeito ou se sentirem inadequadas ou buscarem mimicos de seu pai.
É complicado o amor de familia; por um lado a vontade legitima de viver a propria vida por proprios parametros e por outro a sensação de dever e de deferencia. Como em tudo, tem de haver um meio termo. Amar e respeitar, entendendo que os nossos pais ja foram filhos, que eles também ainda estao a aprender e que mesmo que nao admitam teem tanto medo de falhar como pais como os filhos teem medo de falhar às expectativas dos seus progenitores.
Por ultimo, acredito que por inerência devemos todo esforço possivel para apoiar, respeitar, amar e o demonstrar em palavras e actos- mas tambem devemos ter auto-estima para saber nos afastar (sem discussão, sem lutas, sem rancores mas com entendimento que uma alma irada é uma alma mal amada) e salvaguardar a nossa individualidade, integridade emocional e independencia intelectual .
Se por um lado somos um sangue, nao somos uma carne. Da mesma forma somos uma familia, não colegas de casa ou uma coincidência genética que consegue viver independente sem afectar um ao outro.
Aceitação, Compromisso, Perdão, Auto-Estima, Comunicação e Sabedoria. "Filho és, Pai serás..."

AGAPE
Agape é para mim o mais complicado de por em palavras. É adoração, o fascinio, o amor interior por uma entidade, um principio, uma causa, o amor de entrega incondicional e completo. Pode ser o amor pela pátria, pela causa ideológica, por Deus, pelo principio irredutivel de liberdade, etc.
Como a amizade, a verdadeira Agape não se move por intuito de auto valorização, não pode se tornar nem num exercicio de masoquismo- quando adotamos crenças de outrem contra sentimentos proprios e vivemos com o coração dividido, nem como arrogancia ou fanatismo, como se a nossa devoção nos colocasse num pedestal.
No plano religioso, em que todos concordam que todos os humanos são subordinados a um poder maior, é ironico que tantas manifestações de suposta adoração tomem contornos narcisistas, satisfazendo seus proprios interesses, sejam materiais ou emocionais. A noção que alguns teem de sua superioridade por viver determinada crença é um contrasenso e vai contra o que os proprios acreditam. Todos os livros sagrados de todas as religiões falam de que a Deus somente cabe julgar o coração das pessoas, mas demasiado frequentemente os imbuidos por sentimentos de suposta Agape ou devoção religiosa (e também por exemplo militar ou politica) valorizam excessivamente a si mesmos, reinterpretam as crenças incutidas, adequam factos a dogmas e não ao contrario e criam uma escala hierarquica imaginaria onde a posiçao é determinada não pelas escolhas e merito de cada um mas pelo seu juizo acerca da devoçao ou ausencia da mesma dos que o rodeiam.
Agape é a identificação com um principio, é fazer as contas da vida e tirar a conclusão por si (porque a devoção genuina, a Deus ou uma causa é algo intimo e visceral), olhar, pensar, ruminar, ruminar outra vez, por em causa as coisas e acima de tudo as suas proprias convicçoes e depois olhar e sentir, "é isto!".É identificar-se com um principio sem nos ser imposto ou negado, não porque esta na moda ou porque é subversivo e alegadamente ser subversivo também é estar na moda mas apenas dum rebanho diferente. É sentir que somos parte de algo maior que a soma das partes, que podemos e queremos ser um contributo para o avanço de determinada causa. A Agape no seu melhor é o que impele o ser humano a estudar ciência na perpetua busca da razao das coisas, é o que obriga o filosofo a nunca achar que ja pode descansar, o que impele um militar a não envergonhar a sua patria com arrogancia ou autoritarismo nem com obediencia cega que em nada dignifica  a causa e que pode levar à ruina dos que teem o mesmo direito de amar outra patria, é o que impele um policia a dia apos dia apesar de todos os reves, de corrupçao e de perigo a sua vida tentar proteger os inocentes, é o que impele o crente a amar a Deus e a ver a Sua face em todas as criaturas e não conseguir conceber uma forma de adoração que contrarie o respeito pela integridade  e bem estar eterno seja emocional, intelectual ou espiritual de si mesmo e de toda a Criação.