segunda-feira, 3 de março de 2014

Criméia: Um desastre anunciado


A Criméia tem tido disputas desde 107 A.C., a fundação reconhecida do Reino do Bósforo Cimmeriano. Foi alvo de invasões (umas militares outras "apenas" culturais) desde Império Romano, Grécia, depois Tribos do interior do território Leste- agora Russia, depois Imperio Otomano. Após tal foi sendo anexado à potencia vizinha que maior poder detinha na altura e que assim invadia o Estreito de Kerch e a Ilha de Tuzla para deter o caminho entre o Mar de Azov e o Mar Negro.

Não só estão em causa motivos económicos mas também de orgulho nacional- esteja certo ou não. Esta àrea está cada vez mais com bases ou negociações com os paises vizinhos (especialmente a Turquia e Georgia) para instalação das mesmas de cariz militar e com a bandeira dos E.U.A. ou U.E. hasteada.

Como chegamos a tal? Porque o povo da Ucrânia  e da Georgia, antigas parcelas da U.R.S.S. apos desta se destacarem teriam esse crescente inclinação para o Ocidente?
Bem, basta ler do pouco falado (para vergonha de toda a Humanidade) genocídio da gente desses paises aquando da purga Estalinista- que matou mais pessoas que o 3ºReich.

A Ucrânia está há muito "entalada" entre os interesses duma potência que os invadiu, violou as suas mães, assassinou os seus pais e deixou seus filhos à fome e desespero e que agora se não colaboram cortam os negócios e a "torneira" de gaz natural e petroleo sem o qual voltam à fome e frio. Se ainda assim preferirem frio e fome, invade-se. Há muitos fantasmas aqui e muitas sombras de coisas por vir que espero não se concretizem.

Do outro lado a Ucrânia tem uma Europa a Oeste e a Turquia a Sul que não se sabem organizar, divididos, cheios de telhados de vidro que se por um lado receosos de conflito, sabem que nele há negocio: armar a resistencia ucraniana, fazer pactos energéticos, trazer para a União Européia o Bosforo/Ponte do Mar Negro- que a par da tentativa de aglutinar a Turquia na U.E. daria completo controle das rotas comerciais e por inerência uma vantagem estrategica (geo-politica e comercial) da àrea.

Os E.U.A.teem a ganhar com isto também, principalmente pela industria do armamento que ao longo do ultimo seculo e meio tem sido uma alavanca da economia; cada vez que os E.U.A. estão em crise rebenta uma guerra, são visitados por espiritos iluminados a gritar liberdade por uma terra distante que só por acaso é geo-politicamente estrategica e economicamente atraente. Os milhares de timorenses que morreram no altar da vergonha não visitaram nenhum sonho ou consciencia dos governantes dos E.U.A.- sangue não alimenta máquinas e carros, e petróleo não lá havia.

A Russia tem o que temer neste ponto, se - como se antevia desde 2003 aquando da construção da muralha na Ilha no Estreito de Kerch e já então houve um quase conflito, perder esta ligação ao Mar Negro é um anuncio de cedência e inevitavel perda de poder na àrea. Não é fora de contexto pensar e entender as consequências dos constantes convites da  U.E. à Turquia para se juntar ao rebanho do Ocidente- sem quase nada se dizer dos atropelos constantes que nesse país se faz contra os proprios cidadãos, a liberdade de expressão, de imprensa, direitos das mulheres, das varias etnias, religiosos, etc.
Mas a Turquia tem um asco maior pela Russia que pela U.E. e quer voltar a ser um ponto pivot de ligação intercontinental e por isso a probabilidade de se dobrar é grande. Ai o Bósforo de Istambul estaria indirectamente nas mãos do Ocidente. SE a Ucrânia pende para Ocidente também o Bosforo de Mar de Azov passa para o Ocidente.

Resumindo, a Russia precisa da Crimeia para manter as rotas maritimas e relembrar o resto do Leste que não se cospe na mão que os alimenta (mesmo que tenha dizimado milhoes dos seus conterraneos ha cerca de apenas um século)
A Uniao Europeia se permitir a saida da Crimeia da Ucrania, só podera controlar essa area se e quando a Turquia aderir à U.E. e Istambul servir de rolha/filtro para o comercio e relações russas com os paises do Mediterraneo.

Os E.U.A. desde ha muito que veem nesta regiao do Mar Negro como que um portal do Alem do qual sairiam os fantasmas do Comunismo e por isso nao so beneficiam economicamente do armamento imediato (a Alemanha e a França também encheriam os cofres com armamento fornecido a Ucrania se a isso chegar) mas fariam no seu solo um revivalismo da grandeza americana e assim nao so cresceria em dolares mas em ego e por inerencia em sujeição do proprio povo aos seus poderes instituidos.

Esta não é uma critica a nenhum dos paises e muito menos aos seus povos.

Para mim a  Russia é uma Nação grande, vasta no territorio quanto na alma , intelectual e espiritualmente profunda, cheia de momentos de pura glória e em muitas coisas um melhor exemplo que o Ocidente. Mas está imersa por ora em fundamentalismos e chefiada por revivalistas de Estaline.
A U.E. conseguiu muito bem, muitas coisas e muitas pessoas beneficiam todos os dias de muitas das estrategias comuns. Mas não hajam ilusoes, o maior sucesso da U.E. foi a aglutinação cultural, a sujeiçao das massas,a  perda de soberania dos paises economicamente menos poderosos, negocios danosos e presentes envenenados e - nos ultimos 10 a 15 anos, um vazio ideologico. Este ultimo muito é perigoso pois a Historia ensina-nos que quando os governos entram em crise e o povo em desespero tende a procurar e ver (mesmo que la não esteja) um salvador. Em terra de cegos, quem tem olho é Rei.

Os E.U.A., para mim uma nação formidavel, cheia de vantagens, pleno de paisagens e gente intrinsecamente bela e industriosa e com uma historia cativante. Mas é uma nação altamente bipolar, onde uma minoria- e é mesmo minoria- domina tudo, desde ideologias, o ensino, a produção alimentar (dominada por 5 empresas), medicina (por uma duzia de farmaceuticas que domina ate os seguros de saude), 5 a 6 familias que dominam todo o petroleo e armas e empresas de construção (Bush domina petroleo e invade paises no Medio Oriente, depois o Chenney foi com a sua empresa de construçao civil e materias e só por coincidencia conseguiu que o país deixado em ruinas por Bush fosse por contrato imposto reconstruido por Chenney)- é o que se chama "win win situation". Homens e mulheres que envergonham os E.U.A. e só aprofundam a ideia- errada na minha opinião e experiência, de que todos os americanos são  arrogantes e negociadores déspotas.

O que está em jogo? Acima de tudo isto é, explicado em linguagem de miudos: uma disputa de egos e um excelente negócio  (armas, reconstruçao do que for destruido, contratos com empresas da area, controlo de rotas comerciais). Ganharão todos menos os soldados que serão carne para canhão, os seus pais, o povo da Ucrânia que tenta escolher entre um urso ferido e raivoso a Leste e uns abutres oportunistas penteados de àguias nobres a Oeste.

Aconteça o que acontecer aqui e agora, Istambul que se prepare pois será a próxima àrea de disputa, seguindo esta mesma lógica.

p.s.- entretanto discretamente Caxemira está ao rubro, a area ja ha muito mais militarizada por metro quadrado no mundo inteiro. No Tibete começam a haver agitações porque o Dalai Lama não vai para novo e quando morrer e se encetar a busca pela reencarnação do próximo líder isso vai reavivar as ambiçoes de independencia do Tibete por isso mesmo agora- com o senhor ainda vivo, começa-se a ver um estrangulamento cultural e  economico cada vez maior da area para que quando chegar a  hora do 17ºDalai Lama , Lhasa e a sua gente esteja  tão dependente de dinheiro e negocios dominados pela China e tão povoado a força por chineses que são bem pagos para se alocarem no Tibete e assim diluirem a cultura local que qualquer  faisca de liberdade é apagada em dias. Temos de cada um limpar a nossa casa, mas nao podemos muito mais tempo olhar só para o umbigo.Não é so tolo ou irrealista, é indigno.

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