PORQUÊ?
QUEM?
COMO?
O QUÊ
Um ritual é um acto ou cerimonia em que se utiliza (com recurso a objectos, palavras, gestos e/ou roupagens) uma imagética ou auxilio visual para ensinar um principio ou história de teor etico ou moral, marcar uma passagem de estado iniciático (passagem à maturidade, apresentação à sociedade/clã/grupo religioso, os pactos de união- vulgo casamento, diferentes graus de compromisso e entrega à sociedade ou a um propósito/ordem religioso/teosofico especifico, etc) ou enquanto simbolo fisico de uma manifestação de poder espiritual usado para ora celebração/louvor por o que se crê serem graças concedidas (exemplo do ritual da páscoa) ora evocação de auxilio mágico ou divino para resolução de problemas reais ou subentendidos na vida do crente (exemplo de exorcismo, limpeza de energias negativas em geral, orações por almas, benção de embarcações para que sejam protegidas de tempestades, etc).
Esta definição não se esgota por aqui, é apenas a minha limitada percepção. Em suma, um, ritual é a parte fisica visivel, o auxilio visual para a passagem de um principio ou evocação magico, filosofico, etico ou moral. No contexto religioso, é um evento social concreto em que se marca de forma visivel a fronteira entre o fisico e o espiritual, em que se passa uma lição ou se entra numa etapa ou compromisso e através do qual se busca maior aproximação com a entidade superior de quem deriva o referido rito (e tambem aproximação aos que o praticam) e/ou afastamento de tudo o que nos apoquenta ou nos afasta do que interpretamos como benéfico ou divino.
PORQUÊ
Por um lado há que entender que na maioria dos casos existe a componente de revelação- o dogma de que os rituais em si (e não apenas a lição inerente) foram determinados por uma entidade superior como uma parte essencial de adoração e não apenas como auxilio visual. Isto é, a passagem de um ensinamento ou convênio sem os actos, objectos e palavras acessorios, não é suficiente e não cumpre os requesitos de uma entidade ou principio que ultrapassa o praticante.
De uma forma antropologica e mesmo da perspectiva teosofica em si, os actos, palavras, roupas e objectos são completamente inocuos e servem apenas para ajudar o que oficializa- sacerdote por exemplo, a concentrar-se no determinado proposito e ao receptor a focar no resultado. Sem os actos e palavras associados, a mera passagem oral de um principio não marcaria tanto nem tão profundamente a mente do neofito ou iniciante. Resumindo, rituais são a exteriorização fisica de principios espirituais ou filosoficos necessarios (para uns mais que para outros) como meio didactico ou de colocar a mente num estado mais alerta e focalizado. Sem os rituais, as mensagens ou principios seriam passados da mesma forma que conversas profanas ou acções corriqueiras.
Ao introduzir regras, recitações especificas (de preferencia rimadas ou cadenciadas porque a matemática das mesmas resulta numa resposta lógica do cerebro para estar alerta e como tal mais susceptivel), a introdução de roupas e cheiros distintos para que se apelem a todos os sentidos fisicos e nao somente a escuta mas ao olfacto, toque, etc, fazemos com que seja claro para todas as partes que o que se vai fazer é diferente, importante, requer atenção e focalização de todos sentidos fisicos, separa o que é mundano e comum do que é sagrado e excepcional. Estimula susceptibilidade emocional pela grandiosidade e exclusividade associadas e assim se confere o aspecto unico que se pretende deste acto.
O ritual é tão mais preciso quanto menor for a capacidade de concentração, conhecimento e atitude lógica e empírica. A metodologia de ensino, por exemplo, nas crianças segue uma rotina cheia de horarios certos, muitos auxilios visuais, estimulo dos sentidos e repetição para memorização e interiorização (que são coisas distintas), de principios, factos e lições. Conforme crescemos ganhamos suficiente autonomia intelectual e emocional para que aprendamos sem a necessidade dessas rotinas ou rituais; quando estamos mais confusos emocionalmente ou mesmo intelectualmente, beneficiamos de rotinas, cadencias, eventos de desfecho expectavel e estimulo multi-sensorial para voltarmos a focar e estar mais equilibrados.
O ritual não é, na minha opinião, uma necessidade nem um fim em si mas um meio de apresentação ou introdução a um estado de consciencia e emotivo mais predisposto a aceitar determinados conceitos e tomar certas escolhas num sentido pre-defenido.Num mundo envolto em preocupações de trabalho, familia, sobrevivência financeira e emocional, de preocupaçoes com saude, com relações sociais e as expectativas correspondentes, faz sentido a existencia de rituais e ainda teem pertinencia. O mais importante a reter, eu creio, é o que se esta a tentar ensinar atraves deste teatro ou aula. Uma vez aprendido, interiorizado e incorporado, é chegada a maturidade dessa fase e passamos á seguinte. A cadencia excessiva no mesmo patamar só porque sim pode ser adormecedor dos sentidos, levar a crer que nao ha mais a aprender ou a dar importancia demais ao aspecto visual de forma que nos escapa totalmente o significado inerente das coisas. Um ritual demasiado simples corre o risco de nao surtir efeito, um excessivamente elaborado tende a causar tamanha estranheza e fascinio que ou termina em desinteresse ou descamba em ver nele o que não lá está e em canalizarmos expectativas e emoçoes de desespero naquilo que foi desenhado apenas como uma ferramenta de ensino eficaz mas nao como "A" solução "per se".
QUEM
Todos teem rituais, desde crianças. Nem todos sao rituais religiosos, uns sao de funcionalidade social ou de estimulo a convivencia familiar ou de estabelecimento e perpetuar de dogmas e escalas hierarquicas da sociedade em que estamos inseridos.
A grelha de expectativas, compromissos, recompensas, temores e lições associado ao principio dos rituais dão também uma certa segurança- ainda que virtual, emocional e intelectual. Razão pela qual em casos de perturbações de humor e psiquicos é muito frequente se recomendar estabelecer algum tipo de rotina ou ritual. Explica também porque é que ha uma sensação de conforto em rituais religiosos quando estamos emocionalmente susceptiveis mais do que quando estamos seguros. O interesse não é somente religioso em si pois se assim fora o fascinio seria demonstrado em qualquer altura e não como alivio pontual sintomatico dum mau estar emocional ou espiritual. Isto é, o grau de satisfação seria alcançado em convivencia social nesse meio, atraves de leituras pessoais actos proprios isolados e espontaneos, ou palestras em grupo, etc. A força dum ritual , a sua componente elaborada e fantasiosa ( e não quero por em causa o principio inerente que se tenta passar mas apenas o metodo em si que é virtual ou simbolico e por isso inerentemente fantasioso) é que por ser baseado em denominadores emocionais comuns chavão, são de facil absorçao e mesmo de facil identificação do practicante com o principio a ser teatralizado.
Isto não é um insulto a quem practica rituais, uma vez que todos temos os nossos sejam eles religiosos, sociais ou individuais/individualistas. Ha contudo que constatar que um estado de fragilidade emocional pode levar a uma maior distanciação do "Eu" e como tal a uma susceptibilidade de identificação com o outro e o que nos é tentado passar.
COMO
É a minha limitada e imperfeita opinião que todo o ritual (seja religioso organizado, filosofico, politico, social, militar, familiar, individual, etc)que nos estimula a concentrar em pensamentos positivos e construtivos , ambiciosos mas realistas, pode ser benefico, mas se e só se:
- Apelar a identidade propria (e não so a colectiva),
- Apelar à dignidade humana, auto-estima e auto determinação
- Apelar à emancipação emocional, intelectual e espiritual (não uma só; estimular so o lado espiritual quando temos que trabalhar para comer, pagar contas, cuidar e educar filhos,etc pode levar auma utopia nao saudavel e distanciamento catatonico da realidade factual; tão grave quanto uma obsessao materealista nos depriva dos sentidos e adormece a imaginação, sentimentos, ambiçoes e vontade de viver por ausencia de objectivos)
- Servir de passagem de principios de convivência social positiva, equalitária, respeitadora da diferença (não temos de concordar para respeitar)
- Estimular tomada de acção concreta sobre esses principios de estima, valorização e crescimento pelo proprio e pelo seu semelhante
- Não passar um principio de exclusividade ou unicidade da qual resulte a noção de ser justificada uma exclusão de direitos ou mérito de outros só porque não o praticam- em suma tem que a par de passar a sua mensagem com assertividade não o fazer com agressividade, preconceito exclusivista e excluidor ou consciente manipulação emocional ou mental do praticante.
- (e este é o motivo que me levava a participar nos rituais da igreja onde andei 12 anos e nos rituais que ainda pratico por mim) Sempre que possivel, contribuir para que o practicante busque incessantemente se superar em conhecimento, serviço e dedicação e se identificar cada vez mais com principios éticos capazes de melhorar a condição emocional, intelectual e espiritual do mesmo e de todos os que o rodeiam pondo os principios em pratica para o crescimento proprio de forma indissociavel do bem comum.
O QUÊ?
Auxilio visual fisico para transmissao de valores, compromissos e aceitação social e possivelmente divina de forma padronizada a um maior ou menor numero de pessoas que partilham as mesmas predisposições e objectivos.
PORQUÊ?
Porque somos mortais e temos por inerencia preocupaçoes e distraçoes mundanas e aprendemos melhor por estimulos sensoriais que teem de ser excitados ou adormecidos (depende do objectivo do rito) para chegar ao sub-consciente.
QUEM?
Todos praticam um ou outro ritual, uma vez que o principio de teatralização sensorial é uma ferramenta comum de passagem de conhecimento e compromisso em varias etapas e segmentos da vida e sociedade
COMO?
Apelando ao sub-consciente para que ora exteriorize determinada capacidade ora interiorize determinado principio. Fá-lo atraves de estimulo multi-sensorial, frequentremente com metodos (gestos e palavras) repetitivos para surtir efeito reflexivo quase hipnotico, podendo incluir cheiros especificos e unicos, sons caracteristicos, roupas, ferramentas ou instrumentos fetishe, vocabulario elaborado especifico o suficiente para chamar a atençao mas vago o suficiente para que um grande numero de participantes com ele se identifique,etc.
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